Cap.
23
- Os opostos
“...
Como continuassem a interrogá-lo, ele se ergueu e lhes disse: Aquele
dentre vós que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra.
Depois, abaixando-se de novo, continuou a escrever sobre a terra...”
(Capítulo
10, item 12.)
“Aquele
dentre vós que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra”,
assim enunciou Jesus Cristo diante da mulher surpreendida em
adultério.
Ele
conhecia a intimidade das criaturas humanas e as via como um livro
completamente aberto.
Sabia
de suas carências e necessidades condizentes com seu grau evolutivo,
bem como conhecia todo o mecanismo proveniente de sua “sombra”,
quer dizer, a soma de tudo aquilo que elas não desejam ter e ver em
si mesmas.
O
termo “sombra” foi desenvolvido por Carl Gustav Jung, eminente
psiquiatra e psicólogo suíço, para conceituar o somatório dos
lados rejeitados da realidade humana, que permanecem inconscientes
por não querermos vê-los.
Jesus
sabia que todos ali presentes fariam daquela mulher um “bode
expiatório” para aliviar suas consciências de culpa, projetando
sobre ela seus sentimentos e emoções não aceitos e apedrejando-a
sumariamente, conforme as leis da época.
Em
conseqüência, todos ali reunidos sentiriam momentaneamente um
alívio ao executá-la, ou mesmo, “livres dos pecados”, pois nela
seriam projetados os chamados defeitos repugnantes e desprezíveis,
como se dissessem para si mesmos: “não temos nada com isso”.
O
Mestre, porém, induziu-os a fazer uma “introspecção”,
impulsionando-os para uma viagem interior, indagando: “quem de vós
não tem pecados?”
Somos,
a todo instante, tentados a encobrir nossas vulnerabilidades ou
“pontos fracos” por não aceitarmos ser natural que parte de nós
é segura e generosa, enquanto outra duvida e é egoísta.
Faz-se
necessário admitirmos nossos “pecados” porque somente dessa
forma iremos confrontar-nos com nossos “sótãos fechados” e
promover nosso amadurecimento espiritual.
Admitindo
nossos lados positivo e negativo, em outras palavras, nossa
“polaridade”, passaremos a observar nossa ambivalência,
rejeitando assim as barreiras que nos impedem de ser autênticos.
Urge que reconheçamos nossa condição humana de pessoas em processo
de desenvolvimento evolucional.
Ao
assumirmos, porém, nossos “opostos” como elementos naturais da
estrutura humana (egoísmo-desinteresse, dominação-submissão,
adulação-aversão, ciúme-indiferença, malícia-ingenuidade,
vaidade-desmazeLo, apego-apatia), aprendemos a não nos comportar
como o pêndulo - ora num extremo, ora no outro.
A
balança volta sempre ao ponto de equilíbrio, e éjustamente essa a
nossa meta de aprendizagem na Terra. Nem avareza, nem esbanjamento,
nem preguiça, nem superentusiasmo, nem tanto lá, nem tanto cá,
tudo com “equanimidade”, isto é, dando igual importância aos
lados, a fim de acharmos o meio-termo.
As
polaridades unidas formam a totalidade, ou a unidade, mesmo porque
nossa visão depende de ambas as partes unidas, para que nossas
observações e estruturas não sejam claudicantes. Em suma, unir as
polaridades em nossa consciência nos torna unos ou seres totais.
Com
essa determinação, vamos adquirir um bom nível de permeabilidade e
conseguir transcender os limites e interligar nossos opostos,
atingindo um estado de consciência elevada, o que permitirá que
nosso consciente e nosso inconsciente se fundam numa “unidade
total”.
As
pesquisas da atualidade analisaram as metades do cérebro e chegaram
à conclusão de que cada uma tem funções, capacidades e suas
respectivas áreas, onde atuam as diferentes responsabilidades da
psique humana.
O
lado esquerdo cuida da lógica, da linguagem, da leitura, da escrita,
dos cálculos, do tempo, do pensamento digital e linear e do lado
direito do corpo, entre outras coisas, enquanto que o direito se
prende às percepções da forma, da sensação do espaço, da
intuição, do simbolismo, da atemporidade, da música, do olfato e
do lado esquerdo do corpo, entre outras funções.
Usar
a totalidade cerebral é ter uma visão real da vida que nos cerca;
portanto, com apenas metade do cérebro, teremos a bipartição da
verdade, ou melhor, a não-conexão dos opostos.
O
Mestre afirmou-nos: “Eu e meu Pai somos um”, (1) querendo
dizer que Ele era pleno, pois enxergava tudo no Universo como um
“todo”, através de sua
consciência iluminada e integralizada.
Jesus
não agia dividido em “pares opostos “Não pensava e não sentia
como homem ou mulher, mas como espírito eterno; não visualizava o
interior e exterior, antes observava o Universo e a nós por inteiro,
“dentro e fora”, argumentando que o “Reino de Deus” e “as
muitas moradas da Casa do Pai” estavam no exterior e, ao mesmo
tempo, no interior.
Por
isso, não há nada a corrigir ou a consertar em nós, a não ser
melhorar a nossa própria forma de ver as coisas, aprendendo a
conhecer amplamente as interligações dos opostos, a fim de
atingirmos o equilíbrio perfeito.
“Pecado”,
em síntese, são as extremidades de nossa polaridade existencial.
Daí decorre a afirmação de Jesus de Nazaré aos homens que somente
olhavam um dos lados do fato naquele julgamento e que, ao mesmo
tempo, escondiam sentimentos e emoções que gostariam que não
existissem.
Em
suma, a ferramenta vital para interligar os opostos chama-se amor,
porque amar é buscar a unificação das pessoas e das coisas, pois
ele quer fundir e não dividir, O amor tem que ser absolutamente
incondicional porque, enquanto for seletivo e preferencial, não será
amor real. Quem ama realmente constitui um “nós”, isto é,
“une”, sem anular o próprio eu.
O
sol emite raios para todas as criaturas e não distribui sua
luminosidade segundo o merecimento de cada um. Assim também é o
amor do Mestre: não diferencia bons e maus, certos e errados,
poderosos e simples, não separa, nem divide, simplesmente ama a
todos, pelo próprio prazer de amar.
(1)
João 10:30.
FONTE:
Renovando Atitudes (Ditado
por Hammed. Psicografado por Francisco do Espírito Santo Neto.
Editora Boa Nova. 1997)
Nenhum comentário:
Postar um comentário