segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Intelectualismo (Emmanuel – O Consolador)


INTELECTUALISMO
204 – A alma humana poder-se-á elevar para Deus, tão-somente com o progresso moral, sem os valores intelectivos?
O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita.
No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas.
205 – Podemos ter uma idéia da extensão de nossa capacidade intelectual?
A capacidade intelectual do homem terrestre é excessivamente reduzida, em face dos elevados poderes da personalidade espiritual independente dos laços da matéria.
Os elos da reencarnação fazem o papel de quebra-luz sobre todas as conquistas anteriores do Espírito reencarnado. Nessa sombra reside o acervo de lembranças vagas, de vocações inatas, de numerosas experiências, de valores naturais e espontâneos, a que chamais subconsciência.
O homem comum é uma representação parcial do homem transcendente, que será reintegrado nas suas aquisições do passado, depois de haver cumprido a prova ou a missão exigidas pelas suas condições morais, no mecanismo da justiça divina.
Aliás, a incapacidade intelectual do homem físico tem sua origem na sua própria situação, caracterizada pela necessidade de provas amargas.
O cérebro humano é um aparelho frágil e deficiente, onde o Espírito em queda tem de valorizar as suas realizações de trabalho.
Imaginai a caixa craniana, onde se acomodam células microscópicas, inteiramente preocupadas com sua sede de oxigê-nio, sem o dispensarem por um milésimo de segundo; a corrente do sangue que as irriga, a fragilidade dos filamentos que as reúnem, cujas conexões são de cem milésimos de milímetro, e tereis assim uma idéia exata da pobreza da máquina pensante de que dispõe o sábio da Terra para as suas orgulhosas deduções, verificando que, por sua condição de Espírito caído na luta expiatória, tudo tende a demonstrar ao homem do mundo a sua posição de humildade, de modo que, em todas as condições, possa ele cultivar os valores legítimos do sentimento.
206 – Como é considerada, no plano espiritual, a posição atual intelectiva da Terra?
Os valores intelectuais do planeta, nos tempos modernos, sofrem a humilhação de todas as forças corruptoras da decadência. A atual geração, que tantas vezes se entregou à jactância, atribuindo a si mesma as mais altas conquistas no terreno do raciocínio positivo, operou os mais vastos desequilíbrios nas correntes evolutivas do orbe, com o seu injustificável divórcio do sentimento.
Nunca os círculos educativos da Terra possuíram tanta facilidade de amplificação, como agora, em face da evolução das artes gráficas; jamais o livro e o jornal foram tão largamente difundidos; entretanto, a imprensa, quase de modo geral, é órgão de escândalo para a comunidade e centro de interesse econômi-co para o ambiente particular, enquanto que poucos livros triunfam sem o bafejo da fortuna privada ou oficial, na hipótese de ventilarem os problemas elevados da vida.
207 – A decadência intelectual pode prejudicar o equilíbrio do mundo?
Sem dúvida. E é por essa razão que observamos na paisagem político-social da Terra as aberrações, os absurdos teóricos, os extremismos operando a inversão de todos os valores.
Excessivamente preocupados com as suas extravagâncias, os missionários da inteligência trocaram o seu labor junto ao Espírito por um lugar de domínio, como os sacerdotes religiosos que permutaram a luz da fé pelas prebendas tangíveis da situação econômica. Semelhante situação operou naturalmente o mais alto desequilíbrio no organismo social do planeta e, como prova real desse asserto, devemos recordar que a guerra de 1914-1918 custou aos povos mais intelectualizados do mundo mais de cem mil bilhões de francos, salientando-se que, com menos de centésima parte dessa importância, poderiam essas nações haver expulsado o fantasma da sífilis do cenário da Terra.
208 – Há uma tarefa especializada da inteligência no orbe terrestre?
Assim como numerosos Espíritos recebem a provação da fortuna, do poder transitório e da autoridade, há os que recebem a incumbência sagrada, em lutas expiatórias ou em missões santificantes, de desenvolverem a boa tarefa da inteligência em proveito real da coletividade.
Todavia, assim como o dinheiro e a posição de realce são ambientes de luta, onde todo êxito espiritual se torna mais porfiado e difícil, o destaque intelectual, muitas vezes, obscurece no mundo a visão do Espírito encarnado, conduzindo-o à vaidade injustificável, onde as intenções mais puras ficam aniquiladas.
209 – O escritor de determinada obra será julgado pelos efeitos produzidos pelo seu labor intelectual na Terra?
O livro é igualmente como a semeadura. O escritor correto, sincero e bem-intencionado é o lavrador previdente que alcançará a colheita abundante e a elevada retribuição das leis divinas à sua atividade. O literato fútil, amigo da insignificância e da vaidade, é bem aquele trabalhador preguiçoso e nulo que “semeia ventos para colher tempestades”. E o homem de inteligência que vende a sua pena, a sua opinião e o seu pensamento no mercado da calúnia, do interesse, da ambição e da maldade, é o agricultor criminoso que humilha as possibilidades generosas da Terra, que rouba os vizinhos, que não planta e não permite o desenvolvimento da semeadura alheia, cultivando espinhos e agravando responsabilidades pelas quais responderá um dia, quando houver despido a indumentária do mundo, para comparecer ante as verdades do Infinito.
210 – Os trabalhadores do Espiritismo devem buscar os intelectuais para a compreensão dos seus deveres espirituais?
Os operários da doutrina devem estar sempre bem dispostos na oficina do esclarecimento, todas as vezes que procurados pelos que desejem cooperar sinceramente nos seus esforços. Mas provocar a atenção dos outros no intuito de regenerá-los, quando todos nós, mesmos os desencarnados, estamos em função de aperfeiçoamento e aprendizado, não parece muito justo, porque estamos ainda com um dever essencial, que é o da edificação de nós mesmos.
No labor da Doutrina, temos de convir que o Espiritismo é o Cristianismo redivivo pelo qual precisamos fornecer o testemunho da verdade e, dentro do nosso conceito de relatividade, todo o fundamento da verdade da Terra está em Jesus-Cristo.
A verdade triunfa por si, sem o concurso das frágeis possibilidades humanas. Alma alguma deverá procurá-la supondo-se elemento indispensável à sua vitória. Com seu órgão no planeta, o Espiritismo não necessita de determinados homens para consolar e instruir as criaturas, depreendendo-se que os próprios intelectuais do mundo é que devem buscar, espontaneamente, na fonte de conhecimentos doutrinários, o benefício de sua iluminação.
Fonte: O Consolador (Ditado por Emmanuel. Psicografado por Chico Xavier. Editora FEB. 1941)

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