CAP.
XIV - A TEORIA DO RISCO
INTRODUÇÃO
O
encarnado trilha seus passos na crosta terrestre devendo buscar,
dia-a-dia, a reforma intima para alcançar
melhor estágio em sua escalada evolutiva, garantindo, assim, efetivo
progresso e cumprimento de sua programação. Para tanto conta com
inúmeros fatores que o ajudam nessa caminhada, em especial o auxílio
constante dos bons pensamentos - intuições e
inspirações - emanados do Plano Superior, através de seu mentor e
outros emissários, desde que se mantenha em boa sintonia.
Seguir
o Evangelho de Jesus é a melhor forma de assegurar real progresso,
tanto para reparar seus débitos - desta vida ou de existências
anteriores - quanto para adquirir virtudes. O homem deve conhecer a
Lei de Ação e Reação, essa Norma Divina que o faz vivenciar, a
toda ação positiva, uma reação no mesmo sentido e, a cada ato
negativo, uma reação semelhante.
Ainda
na trilha
da sua evolução, a serviço da lei
mencionada
e facilitando o seu entendimento, surge
a
Teoria do Risco, que tem por fim esclarecer
a
interligação existente entre o livre-arbítrio do ser
humano
com o determinismo do Alto: vive o encarnado, dia após dia,
situações de risco e, a cada triunfo seu - ultrapassando obstáculos
e utilizando corretamente a sua liberdade de decisão -, aproxima-se
do
sucesso almejado em sua jornada terrena.
Esclareça-se,
inicialmente, que essa teoria, apesar de
existir
sob outra forma no plano espiritual, da maneira como é aqui exposta
deve ser aplicada somente aos encarnados.
LIVRE-ARBÍTRIO
O
livre-arbítrio é a faculdade que o ser humano tem de eleger o seu
próprio caminho, resistindo ou cedendo às
suas
boas ou más tendências e às
influências
que recebe dos Espíritos elevados ou inferiores. A liberdade de ação
de cada encarnado, entretanto, pode ser limitada pelo determinismo do
Plano Superior (24).
A
cada prova que tem pela frente, durante o estágio na Crosta, incide
o bom ou o mau uso do seu livre-arbítrio, conforme este esteja sendo
utilizado
mais
ou
menos próximo aos ensinamentos de Jesus.
O
livre-arbítrio do homem jamais
é
tolhido
ou influenciado pelo de outrem - encarnado ou desencarnado - sem que
queira ou consinta. Se as suas decisões são desviadas do primeiro
intento, na verdade tal situação é permitida, consciente ou
inconscientemente, pela própria pessoa que está decidindo:
situações de interferência no campo das decisões tomadas no plano
material podem emergir de obsessões ou influenciações, às
quais
todos os seres humanos estão sujeitos, porém o mau uso do
livre-arbítrio, originário dessas influências de entidades
inferiores, não afasta a responsabilidade do encarnado, que permite
essa aproximação e, por vezes, a dominação de seus passos por
tais Espíritos. Enfim, o homem é sempre responsável por seus atos
quando se desvia da trilha do bem.
A
crosta terrestre, por ser ambiente evolucionai neutro (25),
confere a todo indivíduo a possibilidade de vencer qualquer prova
que tenha à frente, bastando-lhe a aplicação da fé, o exercício
da força de vontade e a promoção da reforma íntima.
Deve,
pois, o homem resistir às
suas
más tendências, afastando ideias
desviadas
do Evangelho e desvinculando-se de qualquer assédio nesse
sentido
por
parte de encarnados ou desencarnados. Nesse contexto, ao receber
inspirações ou intuições de Espíritos Superiores, cabe ao seu
livre-arbítrio aceitá-las
e
assimilar cada uma ou não. Se as acolher estará exercitando
positivamente o seu poder de decisão plena.
Por
vezes ocorrem intuições
ordenativas,
ou seja, sugestões transmitidas energicamente pelo Plano Superior.
Mas, mesmo nessa forma, não suprimem a livre-aceitação por parte
do receptor
da
mensagem.
Não
se deve falar em abuso de livre-arbítrio, mas tão-somente
em
bom ou mau uso do mesmo. O ser humano tem opções livres a escolher
durante a sua jornada terrena. Pode utilizar seu poder de decisão
como lhe aprouver, arcando sempre com as conse- quências
de
seus atos, positivos ou negativos. Desvios nessa senda decisória
fazem parte do processo evolutivo, já que o encarnado não deixa de
aprender também com seus erros.
DETERMINISMO
O
determinismo é a Vontade do Criador, atuando nos fatos através de
Suas leis ou por intermédio de Seus emissários, com vistas a
garantir o progresso geral. Portanto, sempre que o Alto deseja que
alguma situação ocorra no plano material ou que alguém seja
colocado frente a um acontecimento qualquer utiliza-se
do
determinismo, ou seja, materializa-se a Vontade Superior.
Jamais
o determinismo subtrai do encarnado o seu livre-arbítrio,
mas
pode influir em ocorrências, determinando situações que,
aparentemente, parecem retirar-lhe a livre decisão.
Exemplo
disso é a concretização do desencarne de um médium que viesse
utilizando para o mal ou em flagrante desvio de finalidade a sua
mediunidade, colocando em risco terceiros e a própria credibilidade
da Doutrina Espírita. Nesse caso, por determinismo, o médium,
colocado em uma situação de risco, termina desencarnando. Mais
adiante será detalhado o processo da teoria do risco que explica
esse fenômeno.
Por
outro lado, o Espírito pode - dependendo do seu grau de evolução -
escolher livremente a trajetória que irá trilhar na Crosta, ainda
antes do seu reencarne. Uma vez que opte, exemplificativamente, por
retomar à carne num corpo material defeituoso, é preciso a atuação
do determinismo para garantir-lhe esse tipo de reencarnação,
enviando-o, efetivamente, a um corpo privado de uma determinada
condição física.
Percebe-se
que, sem o determinismo, não haveria
controle
por parte da Superioridade ante o desvio e
a má
utilização do livre-arbítrio
por
parte dos encarnados, nem seria possível controlar fenômenos
naturais.
Ainda
sob
esse prisma o determinismo atua para
enviar uma entidade
recalcitrante
de
volta à carne,
sem
que, nesse caso, predomine o livre-
arbítrio.
Reencames
compulsórios podem ser determinados
pelo
Alto em favor do próprio Espírito
revoltado
e reticente. Isso não significa suprir-lhe o livre-arbítrio,
mas
sim utilizar, em lugar deste, o determinismo para atingir objetivos
elevados e justos.
O
determinismo, como se pode observar, por ser a
atuação
da Vontade de Deus, é sempre pleno de Justiça e repleto de
Misericórdia. O livre-arbítrio,
por
estar na alçada das criaturas, nem sempre é usado para boas
finalidades.
Em
resumo, pode-se dizer que o livre-arbítrio
é
ferramenta de trabalho do encarnado, enquanto que o determinismo
serve como instrumento de ação do Plano Superior, Ambos compõem a
teoria do risco.
A
TEORIA DO RISCO
Essa
teoria representa o estudo e a verificação prática da confluência
existente entre livre-arbítrio
e
determinismo, visando, com isso, apresentar regramentos básicos de
entendimento das leis divinas e sua aplicação, facilitando a
compreensão do mecanismo de evolução dos seres humanos.
Iniciemos
a análise do tema com o seguinte quadro exemplificativo:
-
um Espírito prepara-se para reencamar. Escolhe, por livre-arbítrio,
a
trajetória num determinado corpo
físico,
vinculado a família material específica;- a fim de garantir que
reencame nessa família
e
com o corpo a ele destinado, ingressa o determinismo do Alto que,
através de Seus emissários, prepara o seu retomo à carne;
- reencamado,
por ainda estar em fase infantil, desenvolvendo seu discernimento e
sua razão, envolve-se em várias situações de risco, onde impera o
determinismo para orientar seus passos e garantir o seu
amadurecimento no corpo material;
- durante
o seu crescimento aumentam as decisões livres que passa a tomar,
elevando, ainda mais, a sua responsabilidade em cada um de seus atos;
- se
durante o seu trajeto há necessidade de reencontrar determinado
inimigo do passado, reencarnado em algum ponto do Globo, cuida o
determinismo de provocar esse reencontro;
- se
tiver que se submeter a alguma prova para fomentar o seu progresso
espiritual é, por determinismo, colocado nessa situação de risco;
- torna-se
médico. À sua frente e em sua comunidade surge uma epidemia,
acarretando-lhe a responsabilidade de socorrer o próximo. Por livre-arbítrio, pode
ou não ajudar o seu semelhante. Caso o faça, a confluência entre o
determinismo do Alto (colocá-lo frente a uma epidemia) e o seu
livre-
arbítrio (decisão
de auxiliar o próximo) acarreta o seu progresso espiritual. Caso
deixe de fazê-lo pode contrair débitos - a serem resgatados
futuramente - e até mesmo a estagnação nessa trajetória
evolutiva;
- esse
mecanismo continua existindo durante todo o seu estágio
reencarnatório;
- ao
final, a última palavra cabe ao determinismo, quando chega o momento
do seu desencarne, com retomo à pátria espiritual para a sua
avaliação;
- assim,
o início e o fim da jornada na Crosta se fazem por determinismo.
Algumas
situações de risco são vivenciadas por determinismo, mas todas as
ações e atitudes que implicam em decisões, gerando boas ou más
consequências para o encarnado, são tomadas por livre-arbítrio.
Logo, deve-se ter em mente que nem tudo ocorre no mundo
material por força do determinismo, ou seja, por Vontade do Criador.
Há a incidência do livre-arbítrio dos
homens acarretando certas situações e trazendo determinadas
consequências.
O
homem tem, desde o seu reencame, inúmeras provas ou expiações
a enfrentar, necessitando do correto e equilibrado uso do
livre-arbítrio, ou seja, da faculdade de
decidir quanto a seus passos e rumos, para triunfar em sua
programação, alcançando a almejada depuração espiritual.
Dessa
forma, deve-se ressaltar que o mau uso do seu livre-arbítrio
pode acarretar consequências desastrosas não só para ele,
mas também para aqueles que o volteiam. Quando é o caso, o Alto
intervém em favor daqueles que seriam prejudicados pela má
utilização do seu livre-arbítrio,
impedindo que os efeitos negativos ultrapassem a sua própria pessoa.
Eis
porque a teoria do risco tem por base a integração do determinismo
com o livre-arbítrio. No caso referido,
está o determinismo interferindo em uma situação de risco para que
haja equilíbrio nas relações humanas, conforme programação
Superior.
Por
outro lado, quando é conveniente, a Espiritualidade Maior não
intervém e os efeitos negativos do mau uso do livre-arbítrio
de um encarnado atingem também terceiros. Nesse caso, a
programação de todos assim o permite.
Pode-se
utilizar esse mesmo exemplo - o médico inserido no contexto de
epidemia em sua comunidade, por determinismo - e tecer novas
considerações. Utiliza o seu livre-arbítrio
para socorrer ou não o seu próximo. Caso não o faça,
podendo fazê-lo, pode acarretar muitas mortes de terceiros que ficam
sem o tratamento adequado (é o mau uso do livre-
arbítrio prejudicando terceiros e sendo permitido pelo Alto).
Pode, entretanto, ser ineficaz essa omissão, pois o Plano Superior,
se desejar, coloca, por determinismo, outro médico à disposição
dos enfermos e muitos desencarnes deixam de ocorrer (é a
interferência do determinismo evitando as conse- quências do mau
uso do livre-arbítrio de alguém).
Ante
o exposto, pode-se perceber que a teoria do risco reforça,
sobremaneira, a afirmação bem conhecida
no Espiritismo de que nada
acontece por acaso.
A interação livre-arbítrio/determinismo
assim o demonstra.
Enquanto
o livre-arbítrio mal utilizado acarreta prejuízos, aumentando
débitos, o bom uso dessa faculdade, além de proporcionar progresso
ao ser, pode até levar o determinismo a minimizar-lhe expiações.
Um exemplo disso é o caso de alguém que tendo por programação -
por
causa
de erros do passado - alguma perda
ou
mal corporal, por acidente ou não, durante a jornada física que
vivência, o seu apego à caridade - prática e distribuição do
amor - por livre-arbítrio, pode trazer-lhe mérito suficiente que
produz o abrandamento do efeito
expiatório
face às
dívidas
aliviadas pela ação caritativa do presente.
Torna-se
importante
mencionar que muitos encarnados, atualmente,
conservam
a falsa ideia
de
que tudo
acontece por determinismo, ou seja, que esse é o mecanismo
impulsionador de todas as trajetórias no plano físico e de todos os
acontecimentos fáticos do mundo. Assim, tudo de mal ou de bom que
acontece no Globo reputam à Vontade do Criador, como se Deus fosse
responsável pelos erros e desvios dos homens. Não é essa a lógica
da Justiça Divina. O livre-arbítrio tem relevância nesse contexto.
Muitos prejuízos vividos pelos seres humanos são consequências
de
atos deles próprios. Logo, não devem dizer: "tudo
está traçado pelo destino"; "todos os males terrenos são
determinados pelo Alto" -
tanto quanto seria falso afirmar: "todos os males
do Globo são provenientes do livre-arbítrio do homem". O
absolutismo dessas posturas não corresponde à realidade do processo
evolutivo.
De
acordo com a interação explicada pela teoria do risco (26),
ora prevalece o livre- arbítrio, ora o determinismo.
Aspecto
relevante, nessa teoria, é a figura do
risco.
Em
qualquer lugar ou momento da jornada terrena pode surgir uma situação
de risco,
quando, então, o encarnado tomará uma decisão, usando bem ou mal o
seu livre-arbítrio.
Essa
situação de risco pode ser criada por determinismo ou por
livre-arbítrio.
Tome-se
ao exemplo do médico. Se escolhe trabalhar numa comunidade onde
existe a epidemia, ingressa numa situação de risco por
livre-arbítrio. A partir daí, permanecer
auxiliando os enfermos é outro ato de decisão sua.
Nesse
caso, o predomínio é do livre-arbítrio, em
oposição à exemplificação feita linhas
acima, quando o médico é colocado na comunidade, já com epidemia,
por determinismo.
Por
outro lado, se é impulsionado por inspiração a escolher
determinada comunidade para trabalhar e, posteriormente, uma epidemia
se abate no local, é também colocado numa posição de risco, por
determinismo.
Prosseguindo
no exame da teoria em tela, ilustremo-la com outro exemplo: dois
encarnados - inimigos de existências pregressas, com faltas mútuas
a reparar - são colocados numa situação de risco e devem
ultrapassá-la; um está na posição de atacante e outro na de
vítima (27). Inúmeras situações podem ocorrer:
I) Quanto
ao encontro:
a) Atacante
e vítima estão frente a frente por determinismo, ou seja, o Alto os
impulsionou a se encontrarem em determinado local;
b) Ambos
estão nesse encontro por livre- arbítrio: os dois optam por se
encontrar em determinado local, mesmo cientes da repulsa mútua que
sentem um pelo outro;
c) Situação
mista: um deles ingressa na situação por determinismo e o outro por
livre- arbítrio, conjugando as duas hipóteses anteriores.
II) Quanto
ao atacante:
a) Vislumbrando
na vítima alguém que seu âmago rejeita (fruto de vivências do
passado), não resiste às más tendências
e causa-lhe algum mal;
b) Mesmo
sentindo repulsa peculiar pela vítima, controla seus impulsos
negativos e nada faz contra ela.
III) Quanto
à vítima:
a)
É agredida pelo atacante e, não resistindo às suas
más tendências, além de se defender, passa ao contra-ataque,
causando um mal ao oponente;
b)Apenas
se defende e nada faz contra o atacante.
IV)
Quanto
a ambos:
a)
Além de não se atacarem mutuamente, se reconciliam.
V)
Quanto
aos resultados e suas consequências:
a) Integralmente
negativo: ambos se atacam, sem vencer os impulsos negativos e sem
praticar os mandamentos cristãos de amor ao próximo e de perdão
das ofensas;
b) Integralmente
positivo: os dois se reconciliam. Familiarizados com o Evangelho,
implantado em seus corações, atacante e vítima perdoam-se
mutuamente e agem com amor, evitando ataques e granjeando
bons sentimentos;
c) Parcialmente
negativo (quanto à postura do atacante): não contendo as más
tendências, ele agride a vítima e esta apenas de defende. Não há
reconciliação, mas também não há ataque por parte do ofendido;
d) Parcialmente
negativo (quanto à postura da vítima): ela, ao sentir-se diante do
inimigo e imaginando ser atacada por ele, sem que isso corresponda à
realidade, agride o seu oponente, deixando extravasar o ódio
inerente ao seu coração. O atacante apenas se defende ou abandona o
local;
e) Parcialmente
positivo (quanto à postura do atacante): além de não atacar a
vítima, ele perdoa o ataque desta e deixa de nutrir contra esta
sentimentos menos dignos;
f) Parcialmente
positivo (quanto à postura da vítima): ela, além de somente
rechaçar a agressão sofrida, perdoa o seu atacante e não mais
alimenta qualquer vibração negativa ante a imagem de seu inimigo do
passado;
g) Neutro:
ambos não se atacam nesse encontro, mas também não se reconciliam.
Note-se
que, quanto ao encontro em si, envolve-se na questão o determinismo.
Esse mecanismo atua nas hipóteses "a" e "c" do
item I. Toma-se presente, exclusivamente, para provocar a situação
de risco,
ou seja, o encontro num mesmo local dos dois inimigos do passado, que
necessitam se rever para aparar arestas pretéritas, garantindo, com
isso, se triunfarem, um progresso espiritual.
No
tocante aos demais itens, cessa a influência do determinismo do
Alto. Todas as decisões, negativas ou positivas, são frutos da
utilização do livre-arbítrio de cada um.
O atacante pode agredir, não agredir ou ainda reconciliar-se. O
mesmo pode ocorrer com a vítima: defender-se e atacar, somente
defender-se ou reconciliar-se. Os resultados que cada uma das partes
envolvidas pode obter estão expressos no item V.
Outro
relevante tema que tem relação com a teoria do risco é a Lei
de Ação e Reação.
A
toda ação
praticada pelo encarnado, intencionalmente, corresponde uma reação
em igual sentido. Assim, atos bons trazem efeitos positivos. Atos
maus acarretam retornos negativos.
Para
garantir a ocorrência da reação existe um mecanismo inafastável,
que é o determinismo.
Para
o desencadeamento
de
ações conscientes, toma-se fundamental o exercício do
livre-arbítrio.
Portanto,
para cada ação
intencional (utilização do livre-arbítrio),
existe,
por determinismo, uma reação.
Eis o interfluxo da teoria do risco com a lei de ação e reação.
Num
contexto maior, pode-se vislumbrar a importância desta teoria a
nível da reencamação: cada existência física que o ser humano
vivência é composta de inúmeras situações
de risco
e ela mesma representa uma jornada de risco.
O homem responde pelo conjunto dos atos praticados ao longo de sua
vida material e o resultado dessa avaliação constata a sua
evolução, contração de novos débitos ou mesmo a estagnação.
Existem
até reencamações
de conteúdo predominantemente expiatório,
ou seja, um retorno à
matéria
para expiar grandes erros do passado, como reação àquela
trajetória anteriormente vivenciada.
Ilustrando,
vejamos o seguinte quadro-resumo,
comparando
a reencarnação
com uma situação
de risco,
sob o prisma da lei de ação e reação:
Teoria
do Risco;
1) Situação
de risco: envolve uma
decisão (livre arbítrio), positiva ou negativa, que acarreta uma
reação em igual sentido (determinismo).
2) Reencarnação:
envolve um
conjunto
de decisões e ações do encarnado (livre arbítrio) que lhe traz,
como reação, outra reencarnação, cuja programação leva em conta
a trajetória física anterior(determinismo).
Lei
de Ação e Reação:
Ação
(livre-arbítrio)
x
reação
(determinismo)
Outro
ponto importante de abordagem diz respeito à possibilidade que o
encarnado tem de alterar algumas decisões previstas pelo Alto - que
seriam encaminhadas à concretização no plano material por
determinismo - através da boa utilização de seu livre-arbítrio.
A
título de ilustração - voltando ao exemplo do uso que o medianeiro
faz da sua mediunidade - mencione-se um médium que comece a se
desviar dos rumos ideais no uso de suas faculdades medianímicas,
comercializando seus atos. A Espiritualidade Maior fixa o seu
desencarne prematuro num determinado prazo. Entretanto, esse médium
realiza, em seu âmago, autêntica reforma íntima, arrependendo-se
dos atos praticados e propondo-se a mudar de atitude. A programação
do desencarne é suspensa.
Pela
lógica da teoria do risco, o bom uso do livre-arbítrio
tem o condão de modificar, quando possível, o determinismo
do Alto.
Uma
das regras da teoria do risco é que o mal jamais é fruto do
determinismo e sim do livre- arbítrio
erroneamente utilizado. O Plano Superior não conduz nenhum
encarnado a cometer atos incompatíveis com o Evangelho de Jesus. O
que pode fazer é conduzir, por determinismo, duas pessoas a terem um
encontro, conforme mencionado no exemplo linhas acima, para resgates
mútuos. Eventual resultado negativo é sempre fruto das decisões
dos próprios homens envolvidos.
Lembre-se
que até mesmo catástrofes provocadas por fenômenos naturais não
constituem em si mesmas, apesar das aparências, um mal à
Humanidade. Por trás de todo acontecimento causado por determinismo
existe sempre um bem, por vezes de difícil compreensão imediata aos
encarnados, ante o estágio evolutivo que ainda possuem. A realidade
evidencia que todo propósito do Alto é positivo, levando os
Espíritos, de um modo geral, encarnados e desencarnados, à senda
do progresso.
Outro
quadro para ilustrar o tema:
Mal
(vivenciado individual ou coletivamente): somente pode ser fruto do
livre-arbítrio.
Bem
(vivenciado individual ou coletivamente): fruto do livre-arbítrio ou
do determinismo.
Duas
situações de especial relevância na jornada dos seres humanos
merecem ser vistas à luz da teoria do risco: o suicídio e o duelo.
Quanto
ao primeiro, deve-se
ter
por parâmetro a assertiva seguinte: somente
se comete suicídio por livre-arbítrio.
Um encarnado mata-se
deliberada
e conscientemente
e
outro pode, por levar uma vida desregrada e repleta de vícios de
toda ordem, matar-se inconscientemente,
arcando cada um com a responsabilidade pelas suas ações. O
determinismo do Alto intervém nessas situações unicamente para
fazer valer a lei de ação e reação. Ao ato contrário às
Leis
Divinas (suicídio) incide uma reação expiatória.
No
tocante ao segundo, podem dois duelistas estar frente a frente por
livre-arbítrio ou por determinismo. Neste último caso, o Plano
Superior programa o encontro dos dois para impulsioná-
los a
uma reparação de dívidas do passado, provocando-lhes um momento de
decisão importante: resistir à ideia
do
duelo, dando valor à vida e aos ensinamentos cristãos, conseguindo,
assim, nesse aspecto, a reforma íntima. Entretanto, o resultado
positivo ou não desse encontro, estabelecido pelo determinismo, é
problema concernente com exclusividade ao campo do livre-arbítrio de
ambos. Cada um decide por si, assumindo a responsabilidade por sua
postura. Por outro lado, podem estar frente a frente por vontade
própria, sem qualquer ingerência, nesse sentido, do Alto. Nesse
caso, desde o encontro até o resultado, todos os atos estão no
campo de análise do livre- arbítrio. Note-se,
portanto,
que a conjunção dos dois (livre-arbítrio e determinismo) compõe a
teoria
do risco
e esta explica o mecanismo de evolução das criaturas.
CONCLUSÃO
Importante
frisar, nesta abordagem final ao tema, que Deus tem a presciência de
tudo o que acontece, seja a nível de determinismo, seja de
livre-arbítrio. Assim, cada passo que é dado por um encarnado é
conhecido pela Sabedoria Divina, antes mesmo de ser decidido e cada
ato de Seus Emissários, determinando algum acontecimento ou fenômeno
natural na Crosta, possui a presciência do Pai Maior.
Entretanto,
o fato do Criador saber de antemão os passos que os encarnados irão
dar - tendo plena noção dos caminhos a serem seguidos por Seus
filhos
- não quer dizer que retire a qualquer ser humano a possibilidade de
plena utilização de seu livre-arbítrio.
Parece,
a princípio, contraditória essa afirmação. Poder-se-ia argumentar
no seguinte sentido: se Deus sabe qual será a decisão futura, logo,
o homem estaria limitado a decidir sob esse prisma Divino.
A
contradição, no entanto, inexiste. A presciência Divina de todas
as coisas está inserida num contexto maior: a onipotência e
a onisciência do Criador. Esses atributos exclusivos de Deus
explicam, claramente, ser a presciência uma consequência lógica do
Seu poder absoluto e de Seu conhecimento pleno sobre todas as coisas.
Conhecer, previamente, a decisão adotada
pelo encarnado não retira deste último a capacidade de decisão.
Ele escolhe o seu caminho e Deus já conhece, de antemão, a sua
decisão.
Pretender
um mais amplo esclarecimento a esse
respeito é tentar desvendar a Sua natureza, que, para os encarnados,
está longe de ser conhecida. A humildade dos homens deve levá-los
a compreender a sua impossibilidade desse
entendimento mais profundo, acatando as
Suas Leis com o coração e com a razão, ante a lógica e o amor
contidos em Seus mandamentos.
Nas
palavras de Allan Kardec, "a
inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender
anatureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem o
confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe
atribui; mas, à medida cjue nele se desenvolve o senso moral seu
pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então, faz ideia
mais justa
da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais
conforme
a sã razão" (28).
Dessa
forma, o ser humano deve aguardar que seu processo evolutivo se
amplie, atingindo melhor grau de depuração para poder pleitear
melhor entendimento sobre Deus e Seus atributos.
Por
outro lado, os mentores espirituais têm apenas expectativas
quanto às decisões
tomadas pelas pessoas. Não possuem a presciência, embora, muitas
vezes, ante o seu elevado grau de esclarecimento, possam acertar qual
a opção adotada pelo homem na utilização de seu livre- arbítrio.
Em outras vezes, alguns protetores podem errar nas suas previsões e
ser surpreendidos por decisões positivas ou negativas dos
encarnados. Somente quando orientados pelo Mais Alto
não apresentam erros em suas avaliações.
A
Sabedoria e a Misericórdia de Deus proporcionam às
criaturas
um mecanismo evolutivo justo e possível de ser vivenciado por todos.
Basta que cada ser humano, através da correta utilização de seu
livre-arbítrio,
conduza
os seus passos conforme as sábias lições do Evangelho de Jesus.
Dentro do caminho do bem, pois, o encarnado pode cumprir a sua
programação com o menor risco
possível e com isso garantir o progresso de seu espírito.
Como
já foi dito, nada acontece por acaso. Não há sofrimento sem causa
ou dádiva sem merecimento. O livre-arbítrio
é
faculdade essencial para os encarnados conduzirem-se dentro dos
parâmetros cristãos e o determinismo
atua para corrigir eventuais distorções que surjam ao longo das
suas jornadas, permitindo que o Alto siga o melhor traçado na
programação idealizada para o bem de toda a Humanidade.
A
trajetória de cada ser humano tem importância individual e
coletiva, pois seus atos podem alterar programações alheias. Por
isso, a teoria
do risco
busca dar forma e possibilidade para o melhor entendimento do
mecanismo de atuação do determinismo interagindo com o
livre-arbítrio,
de
modo a propiciar o progresso individual, mas sem prejudicar a
evolução coletiva.
Essa
teoria não deve ser usada, porém, para fazer análises do passado
histórico
dos homens, com a pretensão de interpretar, à luz do risco
das situações,
se os fatos pretéritos ocorreram por livre-
arbítrio, por
determinismo ou pela conjugação dos dois. O julgamento dessas
situações cabe unicamente à Espiritualidade Maior.
A
teoria
do risco
visa facilitar o entendimento do presente
e do futuro,
aumentando as possibilidades de êxito de todo encarnado - rumo ao
aperfeiçoamento do seu espírito levando-o a sentir-se cada vez mais
realizado e feliz, com a compreensão do funcionamento da lei
de ação e reação
e a visão palingenésica da sua existência.
Notas:
(24)
- O
Livre-arbítrio é ilimitado na intenção do encarnado.
As
ações, no entanto, que visam exteriorizar essa intenção, podem
ser limitadas pela Vontade do Criador.
(25)
- Ver
a esse respeito o Capítulo VII (umbral).
(26)
- Ressalta-se, a bem do entendimento dessa teoria, que os exemplos
citados neste capítulo possuem várias formas de ser focalizados,
razão pela qual não se pretende esgotar em cada um deles todas as
possibilidades de ocorrências de situações. Eles são ilustrativos
e não representam a teoria em si.
(27)-
Utilizamos os termos atacante e vítima apenas para representar
melhor, na ilustração apresentada, a posição do agente ativo
(aquele que agride) e a do agente passivo (aquele que se defende).
Não se pretende dizer que o atacante seja o culpado e a vítima o
inocente, como, aliás, demonstram as situações descritas a seguir.
(28)
- "O Livro
dos Espíritos”, Parte Primeira, Capítulo 1, item n. 11,
29a
edição,
FEB.
Fonte:
Conversando sobre
mediunidade (Ditado
por Cairbar Schutel. Psicografado por Abel Glaser. Editora O Clarim.
1993)
Muito bom. Ajudou muito e ampliou o entendimento! Valeu por compartilhar.
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