terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A Teoria do Risco (Cairbar Schutel - Conversando sobre mediunidade)


CAP. XIV - A TEORIA DO RISCO

INTRODUÇÃO


O encarnado trilha seus passos na crosta terrestre devendo buscar, dia-a-dia, a reforma intima para alcançar melhor estágio em sua escalada evolutiva, garantindo, assim, efetivo progresso e cumprimento de sua programação. Para tanto conta com inúmeros fatores que o ajudam nessa caminhada, em especial o auxílio constante dos bons pensamentos - intuições e inspirações - emanados do Plano Superior, através de seu mentor e outros emissários, desde que se mantenha em boa sintonia.
Seguir o Evangelho de Jesus é a melhor forma de assegurar real progresso, tanto para reparar seus débitos - desta vida ou de existências anteriores - quanto para adquirir virtudes. O homem deve conhecer a Lei de Ação e Reação, essa Norma Divina que o faz vivenciar, a toda ação positiva, uma reação no mesmo sentido e, a cada ato negativo, uma reação semelhante.
Ainda na trilha da sua evolução, a serviço da lei mencionada e facilitando o seu entendimento, surge a Teoria do Risco, que tem por fim esclarecer a interligação existente entre o livre-arbítrio do ser humano com o determinismo do Alto: vive o encarnado, dia após dia, situações de risco e, a cada triunfo seu - ultrapassando obstáculos e utilizando corretamente a sua liberdade de decisão -, aproxima-se do sucesso almejado em sua jornada terrena.
Esclareça-se, inicialmente, que essa teoria, apesar de existir sob outra forma no plano espiritual, da maneira como é aqui exposta deve ser aplicada somente aos encarnados.

LIVRE-ARBÍTRIO

O livre-arbítrio é a faculdade que o ser humano tem de eleger o seu próprio caminho, resistindo ou cedendo às suas boas ou más tendências e às influências que recebe dos Espíritos elevados ou inferiores. A liberdade de ação de cada encarnado, entretanto, pode ser limitada pelo determinismo do Plano Superior (24).
A cada prova que tem pela frente, durante o estágio na Crosta, incide o bom ou o mau uso do seu livre-arbítrio, conforme este esteja sendo utilizado mais ou menos próximo aos ensinamentos de Jesus.
O livre-arbítrio do homem jamais é tolhido ou influenciado pelo de outrem - encarnado ou desencarnado - sem que queira ou consinta. Se as suas decisões são desviadas do primeiro intento, na verdade tal situação é permitida, consciente ou inconscientemente, pela própria pessoa que está decidindo: situações de interferência no campo das decisões tomadas no plano material podem emergir de obsessões ou influenciações, às quais todos os seres humanos estão sujeitos, porém o mau uso do livre-arbítrio, originário dessas influências de entidades inferiores, não afasta a responsabilidade do encarnado, que permite essa aproximação e, por vezes, a dominação de seus passos por tais Espíritos. Enfim, o homem é sempre responsável por seus atos quando se desvia da trilha do bem.
A crosta terrestre, por ser ambiente evolucionai neutro (25), confere a todo indivíduo a possibilidade de vencer qualquer prova que tenha à frente, bastando-lhe a aplicação da fé, o exercício da força de vontade e a promoção da reforma íntima.
Deve, pois, o homem resistir às suas más tendências, afastando ideias desviadas do Evangelho e desvinculando-se de qualquer assédio nesse sentido por parte de encarnados ou desencarnados. Nesse contexto, ao receber inspirações ou intuições de Espíritos Superiores, cabe ao seu livre-arbítrio aceitá-las e assimilar cada uma ou não. Se as acolher estará exercitando positivamente o seu poder de decisão plena.
Por vezes ocorrem intuições ordenativas, ou seja, sugestões transmitidas energicamente pelo Plano Superior. Mas, mesmo nessa forma, não suprimem a livre-aceitação por parte do receptor da mensagem.
Não se deve falar em abuso de livre-arbítrio, mas tão-somente em bom ou mau uso do mesmo. O ser humano tem opções livres a escolher durante a sua jornada terrena. Pode utilizar seu poder de decisão como lhe aprouver, arcando sempre com as conse- quências de seus atos, positivos ou negativos. Desvios nessa senda decisória fazem parte do processo evolutivo, já que o encarnado não deixa de aprender também com seus erros.

DETERMINISMO

O determinismo é a Vontade do Criador, atuando nos fatos através de Suas leis ou por intermédio de Seus emissários, com vistas a garantir o progresso geral. Portanto, sempre que o Alto deseja que alguma situação ocorra no plano material ou que alguém seja colocado frente a um acontecimento qualquer utiliza-se do determinismo, ou seja, materializa-se a Vontade Superior.
Jamais o determinismo subtrai do encarnado o seu livre-arbítrio, mas pode influir em ocorrências, determinando situações que, aparentemente, parecem retirar-lhe a livre decisão.
Exemplo disso é a concretização do desencarne de um médium que viesse utilizando para o mal ou em flagrante desvio de finalidade a sua mediunidade, colocando em risco terceiros e a própria credibilidade da Doutrina Espírita. Nesse caso, por determinismo, o médium, colocado em uma situação de risco, termina desencarnando. Mais adiante será detalhado o processo da teoria do risco que explica esse fenômeno.
Por outro lado, o Espírito pode - dependendo do seu grau de evolução - escolher livremente a trajetória que irá trilhar na Crosta, ainda antes do seu reencarne. Uma vez que opte, exemplificativamente, por retomar à carne num corpo material defeituoso, é preciso a atuação do determinismo para garantir-lhe esse tipo de reencarnação, enviando-o, efetivamente, a um corpo privado de uma determinada condição física.
Percebe-se que, sem o determinismo, não haveria controle por parte da Superioridade ante o desvio e a má utilização do livre-arbítrio por parte dos encarnados, nem seria possível controlar fenômenos naturais.
Ainda sob esse prisma o determinismo atua para enviar uma entidade recalcitrante de volta à carne, sem que, nesse caso, predomine o livre- arbítrio. Reencames compulsórios podem ser determinados pelo Alto em favor do próprio Espírito revoltado e reticente. Isso não significa suprir-lhe o livre-arbítrio, mas sim utilizar, em lugar deste, o determinismo para atingir objetivos elevados e justos.
O determinismo, como se pode observar, por ser a atuação da Vontade de Deus, é sempre pleno de Justiça e repleto de Misericórdia. O livre-arbítrio, por estar na alçada das criaturas, nem sempre é usado para boas finalidades.
Em resumo, pode-se dizer que o livre-arbítrio é ferramenta de trabalho do encarnado, enquanto que o determinismo serve como instrumento de ação do Plano Superior, Ambos compõem a teoria do risco.


A TEORIA DO RISCO

Essa teoria representa o estudo e a verificação prática da confluência existente entre livre-arbítrio e determinismo, visando, com isso, apresentar regramentos básicos de entendimento das leis divinas e sua aplicação, facilitando a compreensão do mecanismo de evolução dos seres humanos.
Iniciemos a análise do tema com o seguinte quadro exemplificativo:
- um Espírito prepara-se para reencamar. Escolhe, por livre-arbítrio, a trajetória num determinado corpo físico, vinculado a família material específica;- a fim de garantir que reencame nessa família e com o corpo a ele destinado, ingressa o determinismo do Alto que, através de Seus emissários, prepara o seu retomo à carne;
- reencamado, por ainda estar em fase infantil, desenvolvendo seu discernimento e sua razão, envolve-se em várias situações de risco, onde impera o determinismo para orientar seus passos e garantir o seu amadurecimento no corpo material;
- durante o seu crescimento aumentam as decisões livres que passa a tomar, elevando, ainda mais, a sua responsabilidade em cada um de seus atos;
- se durante o seu trajeto há necessidade de reencontrar determinado inimigo do passado, reencarnado em algum ponto do Globo, cuida o determinismo de provocar esse reencontro;
- se tiver que se submeter a alguma prova para fomentar o seu progresso espiritual é, por determinismo, colocado nessa situação de risco;
- torna-se médico. À sua frente e em sua comunidade surge uma epidemia, acarretando-lhe a responsabilidade de socorrer o próximo. Por livre-arbítrio, pode ou não ajudar o seu semelhante. Caso o faça, a confluência entre o determinismo do Alto (colocá-lo frente a uma epidemia) e o seu livre- arbítrio (decisão de auxiliar o próximo) acarreta o seu progresso espiritual. Caso deixe de fazê-lo pode contrair débitos - a serem resgatados futuramente - e até mesmo a estagnação nessa trajetória evolutiva;
- esse mecanismo continua existindo durante todo o seu estágio reencarnatório;
- ao final, a última palavra cabe ao determinismo, quando chega o momento do seu desencarne, com retomo à pátria espiritual para a sua avaliação;
- assim, o início e o fim da jornada na Crosta se fazem por determinismo.
Algumas situações de risco são vivenciadas por determinismo, mas todas as ações e atitudes que implicam em decisões, gerando boas ou más consequências para o encarnado, são tomadas por livre-arbítrio. Logo, deve-se ter em mente que nem tudo ocorre no mundo material por força do determinismo, ou seja, por Vontade do Criador. Há a incidência do livre-arbítrio dos homens acarretando certas situações e trazendo determinadas consequências.
O homem tem, desde o seu reencame, inúmeras provas ou expiações a enfrentar, necessitando do correto e equilibrado uso do livre-arbítrio, ou seja, da faculdade de decidir quanto a seus passos e rumos, para triunfar em sua programação, alcançando a almejada depuração espiritual.
Dessa forma, deve-se ressaltar que o mau uso do seu livre-arbítrio pode acarretar consequências desastrosas não só para ele, mas também para aqueles que o volteiam. Quando é o caso, o Alto intervém em favor daqueles que seriam prejudicados pela má utilização do seu livre-arbítrio, impedindo que os efeitos negativos ultrapassem a sua própria pessoa.
Eis porque a teoria do risco tem por base a integração do determinismo com o livre-arbítrio. No caso referido, está o determinismo interferindo em uma situação de risco para que haja equilíbrio nas relações humanas, conforme programação Superior.
Por outro lado, quando é conveniente, a Espiritualidade Maior não intervém e os efeitos negativos do mau uso do livre-arbítrio de um encarnado atingem também terceiros. Nesse caso, a programação de todos assim o permite.
Pode-se utilizar esse mesmo exemplo - o médico inserido no contexto de epidemia em sua comunidade, por determinismo - e tecer novas considerações. Utiliza o seu livre-arbítrio para socorrer ou não o seu próximo. Caso não o faça, podendo fazê-lo, pode acarretar muitas mortes de terceiros que ficam sem o tratamento adequado (é o mau uso do livre- arbítrio prejudicando terceiros e sendo permitido pelo Alto). Pode, entretanto, ser ineficaz essa omissão, pois o Plano Superior, se desejar, coloca, por determinismo, outro médico à disposição dos enfermos e muitos desencarnes deixam de ocorrer (é a interferência do determinismo evitando as conse- quências do mau uso do livre-arbítrio de alguém).
Ante o exposto, pode-se perceber que a teoria do risco reforça, sobremaneira, a afirmação bem conhecida no Espiritismo de que nada acontece por acaso. A interação livre-arbítrio/determinismo assim o demonstra.
Enquanto o livre-arbítrio mal utilizado acarreta prejuízos, aumentando débitos, o bom uso dessa faculdade, além de proporcionar progresso ao ser, pode até levar o determinismo a minimizar-lhe expiações. Um exemplo disso é o caso de alguém que tendo por programação - por causa de erros do passado - alguma perda ou mal corporal, por acidente ou não, durante a jornada física que vivência, o seu apego à caridade - prática e distribuição do amor - por livre-arbítrio, pode trazer-lhe mérito suficiente que produz o abrandamento do efeito expiatório face às dívidas aliviadas pela ação caritativa do presente.
Torna-se importante mencionar que muitos encarnados, atualmente, conservam a falsa ideia de que tudo acontece por determinismo, ou seja, que esse é o mecanismo impulsionador de todas as trajetórias no plano físico e de todos os acontecimentos fáticos do mundo. Assim, tudo de mal ou de bom que acontece no Globo reputam à Vontade do Criador, como se Deus fosse responsável pelos erros e desvios dos homens. Não é essa a lógica da Justiça Divina. O livre-arbítrio tem relevância nesse contexto. Muitos prejuízos vividos pelos seres humanos são consequências de atos deles próprios. Logo, não devem dizer: "tudo está traçado pelo destino"; "todos os males terrenos são determinados pelo Alto" - tanto quanto seria falso afirmar: "todos os males do Globo são provenientes do livre-arbítrio do homem". O absolutismo dessas posturas não corresponde à realidade do processo evolutivo.
De acordo com a interação explicada pela teoria do risco (26), ora prevalece o livre- arbítrio, ora o determinismo.
Aspecto relevante, nessa teoria, é a figura do risco.
Em qualquer lugar ou momento da jornada terrena pode surgir uma situação de risco, quando, então, o encarnado tomará uma decisão, usando bem ou mal o seu livre-arbítrio.
Essa situação de risco pode ser criada por determinismo ou por livre-arbítrio.
Tome-se ao exemplo do médico. Se escolhe trabalhar numa comunidade onde existe a epidemia, ingressa numa situação de risco por livre-arbítrio. A partir daí, permanecer auxiliando os enfermos é outro ato de decisão sua.
Nesse caso, o predomínio é do livre-arbítrio, em oposição à exemplificação feita linhas acima, quando o médico é colocado na comunidade, já com epidemia, por determinismo.
Por outro lado, se é impulsionado por inspiração a escolher determinada comunidade para trabalhar e, posteriormente, uma epidemia se abate no local, é também colocado numa posição de risco, por determinismo.
Prosseguindo no exame da teoria em tela, ilustremo-la com outro exemplo: dois encarnados - inimigos de existências pregressas, com faltas mútuas a reparar - são colocados numa situação de risco e devem ultrapassá-la; um está na posição de atacante e outro na de vítima (27). Inúmeras situações podem ocorrer:
I) Quanto ao encontro:
a) Atacante e vítima estão frente a frente por determinismo, ou seja, o Alto os impulsionou a se encontrarem em determinado local;
b) Ambos estão nesse encontro por livre- arbítrio: os dois optam por se encontrar em determinado local, mesmo cientes da repulsa mútua que sentem um pelo outro;
c) Situação mista: um deles ingressa na situação por determinismo e o outro por livre- arbítrio, conjugando as duas hipóteses anteriores.
II) Quanto ao atacante:
a) Vislumbrando na vítima alguém que seu âmago rejeita (fruto de vivências do passado), não resiste às más tendências e causa-lhe algum mal;
b) Mesmo sentindo repulsa peculiar pela vítima, controla seus impulsos negativos e nada faz contra ela.
III) Quanto à vítima:
a) É agredida pelo atacante e, não resistindo às suas más tendências, além de se defender, passa ao contra-ataque, causando um mal ao oponente;
b)Apenas se defende e nada faz contra o atacante.
IV) Quanto a ambos:
a) Além de não se atacarem mutuamente, se reconciliam.
V) Quanto aos resultados e suas consequências:
a) Integralmente negativo: ambos se atacam, sem vencer os impulsos negativos e sem praticar os mandamentos cristãos de amor ao próximo e de perdão das ofensas;
b) Integralmente positivo: os dois se reconciliam. Familiarizados com o Evangelho, implantado em seus corações, atacante e vítima perdoam-se mutuamente e agem com amor, evitando ataques e granjeando bons sentimentos;
c) Parcialmente negativo (quanto à postura do atacante): não contendo as más tendências, ele agride a vítima e esta apenas de defende. Não há reconciliação, mas também não há ataque por parte do ofendido;
d) Parcialmente negativo (quanto à postura da vítima): ela, ao sentir-se diante do inimigo e imaginando ser atacada por ele, sem que isso corresponda à realidade, agride o seu oponente, deixando extravasar o ódio inerente ao seu coração. O atacante apenas se defende ou abandona o local;
e) Parcialmente positivo (quanto à postura do atacante): além de não atacar a vítima, ele perdoa o ataque desta e deixa de nutrir contra esta sentimentos menos dignos;
f) Parcialmente positivo (quanto à postura da vítima): ela, além de somente rechaçar a agressão sofrida, perdoa o seu atacante e não mais alimenta qualquer vibração negativa ante a imagem de seu inimigo do passado;
g) Neutro: ambos não se atacam nesse encontro, mas também não se reconciliam.
Note-se que, quanto ao encontro em si, envolve-se na questão o determinismo. Esse mecanismo atua nas hipóteses "a" e "c" do item I. Toma-se presente, exclusivamente, para provocar a situação de risco, ou seja, o encontro num mesmo local dos dois inimigos do passado, que necessitam se rever para aparar arestas pretéritas, garantindo, com isso, se triunfarem, um progresso espiritual.
No tocante aos demais itens, cessa a influência do determinismo do Alto. Todas as decisões, negativas ou positivas, são frutos da utilização do livre-arbítrio de cada um. O atacante pode agredir, não agredir ou ainda reconciliar-se. O mesmo pode ocorrer com a vítima: defender-se e atacar, somente defender-se ou reconciliar-se. Os resultados que cada uma das partes envolvidas pode obter estão expressos no item V.
Outro relevante tema que tem relação com a teoria do risco é a Lei de Ação e Reação.
A toda ação praticada pelo encarnado, intencionalmente, corresponde uma reação em igual sentido. Assim, atos bons trazem efeitos positivos. Atos maus acarretam retornos negativos.
Para garantir a ocorrência da reação existe um mecanismo inafastável, que é o determinismo. Para o desencadeamento de ações conscientes, toma-se fundamental o exercício do livre-arbítrio. Portanto, para cada ação intencional (utilização do livre-arbítrio), existe, por determinismo, uma reação. Eis o interfluxo da teoria do risco com a lei de ação e reação.
Num contexto maior, pode-se vislumbrar a importância desta teoria a nível da reencamação: cada existência física que o ser humano vivência é composta de inúmeras situações de risco e ela mesma representa uma jornada de risco. O homem responde pelo conjunto dos atos praticados ao longo de sua vida material e o resultado dessa avaliação constata a sua evolução, contração de novos débitos ou mesmo a estagnação.
Existem até reencamações de conteúdo predominantemente expiatório, ou seja, um retorno à matéria para expiar grandes erros do passado, como reação àquela trajetória anteriormente vivenciada.
Ilustrando, vejamos o seguinte quadro-resumo, comparando a reencarnação com uma situação de risco, sob o prisma da lei de ação e reação:
Teoria do Risco;
1) Situação de risco: envolve uma decisão (livre arbítrio), positiva ou negativa, que acarreta uma reação em igual sentido (determinismo).
2) Reencarnação: envolve um conjunto de decisões e ações do encarnado (livre arbítrio) que lhe traz, como reação, outra reencarnação, cuja programação leva em conta a trajetória física anterior(determinismo).
Lei de Ação e Reação:
Ação (livre-arbítrio) x reação (determinismo)
Outro ponto importante de abordagem diz respeito à possibilidade que o encarnado tem de alterar algumas decisões previstas pelo Alto - que seriam encaminhadas à concretização no plano material por determinismo - através da boa utilização de seu livre-arbítrio.
A título de ilustração - voltando ao exemplo do uso que o medianeiro faz da sua mediunidade - mencione-se um médium que comece a se desviar dos rumos ideais no uso de suas faculdades medianímicas, comercializando seus atos. A Espiritualidade Maior fixa o seu desencarne prematuro num determinado prazo. Entretanto, esse médium realiza, em seu âmago, autêntica reforma íntima, arrependendo-se dos atos praticados e propondo-se a mudar de atitude. A programação do desencarne é suspensa.
Pela lógica da teoria do risco, o bom uso do livre-arbítrio tem o condão de modificar, quando possível, o determinismo do Alto.
Uma das regras da teoria do risco é que o mal jamais é fruto do determinismo e sim do livre- arbítrio erroneamente utilizado. O Plano Superior não conduz nenhum encarnado a cometer atos incompatíveis com o Evangelho de Jesus. O que pode fazer é conduzir, por determinismo, duas pessoas a terem um encontro, conforme mencionado no exemplo linhas acima, para resgates mútuos. Eventual resultado negativo é sempre fruto das decisões dos próprios homens envolvidos.
Lembre-se que até mesmo catástrofes provocadas por fenômenos naturais não constituem em si mesmas, apesar das aparências, um mal à Humanidade. Por trás de todo acontecimento causado por determinismo existe sempre um bem, por vezes de difícil compreensão imediata aos encarnados, ante o estágio evolutivo que ainda possuem. A realidade evidencia que todo propósito do Alto é positivo, levando os Espíritos, de um modo geral, encarnados e desencarnados, à senda do progresso.
Outro quadro para ilustrar o tema:
Mal (vivenciado individual ou coletivamente): somente pode ser fruto do livre-arbítrio.
Bem (vivenciado individual ou coletivamente): fruto do livre-arbítrio ou do determinismo.
Duas situações de especial relevância na jornada dos seres humanos merecem ser vistas à luz da teoria do risco: o suicídio e o duelo.
Quanto ao primeiro, deve-se ter por parâmetro a assertiva seguinte: somente se comete suicídio por livre-arbítrio. Um encarnado mata-se deliberada e conscientemente e outro pode, por levar uma vida desregrada e repleta de vícios de toda ordem, matar-se inconscientemente, arcando cada um com a responsabilidade pelas suas ações. O determinismo do Alto intervém nessas situações unicamente para fazer valer a lei de ação e reação. Ao ato contrário às Leis Divinas (suicídio) incide uma reação expiatória.
No tocante ao segundo, podem dois duelistas estar frente a frente por livre-arbítrio ou por determinismo. Neste último caso, o Plano Superior programa o encontro dos dois para impulsioná- los a uma reparação de dívidas do passado, provocando-lhes um momento de decisão importante: resistir à ideia do duelo, dando valor à vida e aos ensinamentos cristãos, conseguindo, assim, nesse aspecto, a reforma íntima. Entretanto, o resultado positivo ou não desse encontro, estabelecido pelo determinismo, é problema concernente com exclusividade ao campo do livre-arbítrio de ambos. Cada um decide por si, assumindo a responsabilidade por sua postura. Por outro lado, podem estar frente a frente por vontade própria, sem qualquer ingerência, nesse sentido, do Alto. Nesse caso, desde o encontro até o resultado, todos os atos estão no campo de análise do livre- arbítrio. Note-se, portanto, que a conjunção dos dois (livre-arbítrio e determinismo) compõe a teoria do risco e esta explica o mecanismo de evolução das criaturas.

CONCLUSÃO

Importante frisar, nesta abordagem final ao tema, que Deus tem a presciência de tudo o que acontece, seja a nível de determinismo, seja de livre-arbítrio. Assim, cada passo que é dado por um encarnado é conhecido pela Sabedoria Divina, antes mesmo de ser decidido e cada ato de Seus Emissários, determinando algum acontecimento ou fenômeno natural na Crosta, possui a presciência do Pai Maior.
Entretanto, o fato do Criador saber de antemão os passos que os encarnados irão dar - tendo plena noção dos caminhos a serem seguidos por Seus filhos - não quer dizer que retire a qualquer ser humano a possibilidade de plena utilização de seu livre-arbítrio.
Parece, a princípio, contraditória essa afirmação. Poder-se-ia argumentar no seguinte sentido: se Deus sabe qual será a decisão futura, logo, o homem estaria limitado a decidir sob esse prisma Divino.
A contradição, no entanto, inexiste. A presciência Divina de todas as coisas está inserida num contexto maior: a onipotência e a onisciência do Criador. Esses atributos exclusivos de Deus explicam, claramente, ser a presciência uma consequência lógica do Seu poder absoluto e de Seu conhecimento pleno sobre todas as coisas. Conhecer, previamente, a decisão adotada pelo encarnado não retira deste último a capacidade de decisão. Ele escolhe o seu caminho e Deus já conhece, de antemão, a sua decisão.
Pretender um mais amplo esclarecimento a esse respeito é tentar desvendar a Sua natureza, que, para os encarnados, está longe de ser conhecida. A humildade dos homens deve levá-los a compreender a sua impossibilidade desse entendimento mais profundo, acatando as Suas Leis com o coração e com a razão, ante a lógica e o amor contidos em Seus mandamentos.
Nas palavras de Allan Kardec, "a inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender anatureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida cjue nele se desenvolve o senso moral seu pensamento penetra melhor no âmago das coisas; então, faz ideia mais justa da Divindade e, ainda que sempre incompleta, mais conforme a sã razão" (28).
Dessa forma, o ser humano deve aguardar que seu processo evolutivo se amplie, atingindo melhor grau de depuração para poder pleitear melhor entendimento sobre Deus e Seus atributos.
Por outro lado, os mentores espirituais têm apenas expectativas quanto às decisões tomadas pelas pessoas. Não possuem a presciência, embora, muitas vezes, ante o seu elevado grau de esclarecimento, possam acertar qual a opção adotada pelo homem na utilização de seu livre- arbítrio. Em outras vezes, alguns protetores podem errar nas suas previsões e ser surpreendidos por decisões positivas ou negativas dos encarnados. Somente quando orientados pelo Mais Alto não apresentam erros em suas avaliações.
A Sabedoria e a Misericórdia de Deus proporcionam às criaturas um mecanismo evolutivo justo e possível de ser vivenciado por todos. Basta que cada ser humano, através da correta utilização de seu livre-arbítrio, conduza os seus passos conforme as sábias lições do Evangelho de Jesus. Dentro do caminho do bem, pois, o encarnado pode cumprir a sua programação com o menor risco possível e com isso garantir o progresso de seu espírito.
Como já foi dito, nada acontece por acaso. Não há sofrimento sem causa ou dádiva sem merecimento. O livre-arbítrio é faculdade essencial para os encarnados conduzirem-se dentro dos parâmetros cristãos e o determinismo atua para corrigir eventuais distorções que surjam ao longo das suas jornadas, permitindo que o Alto siga o melhor traçado na programação idealizada para o bem de toda a Humanidade.
A trajetória de cada ser humano tem importância individual e coletiva, pois seus atos podem alterar programações alheias. Por isso, a teoria do risco busca dar forma e possibilidade para o melhor entendimento do mecanismo de atuação do determinismo interagindo com o livre-arbítrio, de modo a propiciar o progresso individual, mas sem prejudicar a evolução coletiva.
Essa teoria não deve ser usada, porém, para fazer análises do passado histórico dos homens, com a pretensão de interpretar, à luz do risco das situações, se os fatos pretéritos ocorreram por livre- arbítrio, por determinismo ou pela conjugação dos dois. O julgamento dessas situações cabe unicamente à Espiritualidade Maior.
A teoria do risco visa facilitar o entendimento do presente e do futuro, aumentando as possibilidades de êxito de todo encarnado - rumo ao aperfeiçoamento do seu espírito levando-o a sentir-se cada vez mais realizado e feliz, com a compreensão do funcionamento da lei de ação e reação e a visão palingenésica da sua existência.

Notas:

(24) - O Livre-arbítrio é ilimitado na intenção do encarnado. As ações, no entanto, que visam exteriorizar essa intenção, podem ser limitadas pela Vontade do Criador.

(25) - Ver a esse respeito o Capítulo VII (umbral).

(26) - Ressalta-se, a bem do entendimento dessa teoria, que os exemplos citados neste capítulo possuem várias formas de ser focalizados, razão pela qual não se pretende esgotar em cada um deles todas as possibilidades de ocorrências de situações. Eles são ilustrativos e não representam a teoria em si.

(27)- Utilizamos os termos atacante e vítima apenas para representar melhor, na ilustração apresentada, a posição do agente ativo (aquele que agride) e a do agente passivo (aquele que se defende). Não se pretende dizer que o atacante seja o culpado e a vítima o inocente, como, aliás, demonstram as situações descritas a seguir.

(28) - "O Livro dos Espíritos”, Parte Primeira, Capítulo 1, item n. 11, 29a edição, FEB.

Fonte: Conversando sobre mediunidade (Ditado por Cairbar Schutel. Psicografado por Abel Glaser. Editora O Clarim. 1993)

Um comentário:

  1. Muito bom. Ajudou muito e ampliou o entendimento! Valeu por compartilhar.

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