sexta-feira, 4 de março de 2016

A Estrada da Vida (Allan Kardec - Obras Póstumas)



A ESTRADA DA VIDA

[...]

A comparação seguinte pode ajudar a compreender as peripécias da vida da alma.

Suponhamos uma longa estrada, em cujo percurso se acham, de distância em distância, mas a intervalos desiguais, florestas que devem ser atravessadas; à entrada de cada floresta a estrada larga e bela é interrompida e só retomada à saída. Um viajante segue essa rota e entra na primeira floresta; mas aí não há trilha batida; é um dédalo inextricável em cujo meio se perde; a luz do Sol desapareceu sob a espessa copa das árvores; ele erra, sem saber para onde vai; enfim, após fadigas incríveis, chega aos confins da floresta, mas, extenuado, rasgado pelos espinhos, magoado pelas pedras. Ali reencontra a estrada e a luz e prossegue seu caminho, procurando curar suas feridas.

Mais longe encontra uma segunda floresta, onde o esperam as mesmas dificuldades; mas já tem alguma experiência; sabe evitá-las em parte e delas sai com menos contusões. Numa encontra o lenhador que lhe indica a direção a seguir e que o impede de se perder. Em cada nova travessia sua habilidade aumenta, pois os obstáculos são transpostos cada vez mais facilmente; certo de encontrar a bela estrada à saída, essa confiança o anima; depois, sabe orientar-se para a encontrar mais facilmente. A estrada conduz ao topo de uma alta montanha, de onde descobre todo o percurso, desde o ponto de partida; também vê as várias florestas que atravessou e se recorda das vicissitudes que experimentou; mas a lembrança não é penosa porque chegou ao fim; é como o velho soldado que, na calma do lar, lembra-se das batalhas a que assistiu; essas florestas disseminadas pela estrada são para ele como pontos negros numa fita branca. Diz ele: “Quando eu estava nessas florestas, sobretudo nas primeiras, como me pareciam longas para atravessar! Parecia-me que jamais chegaria ao fim; tudo se afigurava gigantesco e intransponível em volta de mim. E quando penso que, sem esse bravo lenhador que me pôs no bom caminho, eu talvez ainda lá estivesse! Agora, que considero essas mesmas florestas do ponto em que me encontro, como me parecem pequenas! Parece que as teria transposto com um passo; ainda mais, minha vista as penetra e distingo seus menores detalhes; vejo até os passos errados que dei.”

Então lhe diz um velho: - Meu filho, estás no fim da viagem; mas um repouso indefinido logo te causaria um aborrecimento mortal e te porias a lamentar as vicissitudes que experimentaste e que davam atividade aos teus membros e ao teu espírito. Daqui vês um grande número de viajantes na estrada que percorreste e que, como tu, correm o risco de se perderem no caminho; tens a experiência e nada mais temes; vai ao seu encontro e, por teus conselhos, trata de os guiar, para que cheguem mais depressa.

- Eu lá vou com alegria, responde o nosso homem. Mas, acrescenta ele, por que não há uma estrada direta, desde o ponto de partida até aqui? Isto evitaria que os viajantes passassem por estas florestas abomináveis.

- Meu filho, retoma o velho, olha bem e verás que há muitos que evitam certo número delas; são os que, tendo adquirido mais cedo a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegar; mas tal experiência é fruto do trabalho exigido pelas primeiras travessias, de tal sorte que aqui somente chegam em razão de seu mérito. O que saberias tu mesmo, se por elas não tivesses passado? A atividade que tiveste de desenvolver, os recursos da imaginação que te foram necessários para abrir caminho, aumentaram teus conhecimentos e desenvolveram tua inteligência; sem isto, serias tão inexperiente quanto em tua partida. E depois, procurando sair do embaraço, tu mesmo contribuíste para melhorar as florestas que atravessaste; o que fizeste é pouco, é imperceptível; pensa, porém, nos milhares de viajantes que fazem outro tanto, e que, trabalhando para si mesmos, sem o suspeitar trabalham para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de seu esforço, pelo repouso que aqui desfrutam? Que direito teriam a este repouso, se nada houvessem feito?

- Meu pai, responde o viajante, numa dessas florestas encontrei um homem que me disse: “Na ourela há um imenso abismo que deve ser transposto de um salto; mas em mil, apenas um o consegue; todos os outros caem no fundo de uma fornalha ardente e se perdem sem remissão. Eu não vi esse abismo.”

- Meu filho, é que ele não existe; do contrário, seria uma armadilha abominável, preparada para todos os viajantes que vêm a minha casa. Bem sei que lhes é necessário vencer dificuldades, mas também sei que mais cedo ou mais tarde eles as vencerão. Se eu tivesse criado impossibilidades para um só, sabendo que deveria sucumbir, teria sido uma crueldade, com mais forte razão se o tivesse feito para um grande número. Esse abismo é uma alegoria, cuja explicação vais ver. Olha a estrada, no intervalo das florestas; entre os viajantes, vês alguns que andam lentamente, com ar jovial; vês esses amigos que se perderam de vista no labirinto da floresta, como são felizes por se reencontrarem à saída; mas ao lado deles há outros que se arrastam penosamente; estão estropiados e imploram a piedade dos transeuntes, porque sofrem cruelmente das feridas que, por própria culpa, fizeram nos espinheiros. Mas curar-se-ão e isso para eles será uma lição que devem aproveitar na nova floresta a atravessar, da qual sairão menos combalidos. O abismo é a imagem dos males que sofrerão, e dizendo que em mil só um o transporá, aquele homem teve razão, porque o número dos imprudentes é muito grande; mas não estava certo ao dizer que, uma vez caído nele, não mais sairá. Há sempre uma saída para chegar a mim. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída aos que estão no fundo do abismo; vai sustentar os feridos da estrada e mostrar o caminho aos que atravessam as florestas.

A estrada é a imagem da vida espiritual da alma, em cujo percurso somos mais ou menos felizes; as florestas são as existências corporais, nas quais trabalhamos pelo próprio avanço, ao mesmo tempo que na obra geral; o viajante, chegando ao fim e voltando para ajudar os que estão atrasados, é a imagem dos anjos guardiães, missionários de Deus, que encontram sua felicidade na visão da Divindade, mas também na atividade que desenvolvem para fazer o bem e obedecer ao Supremo Senhor.

Fonte: Obras Póstumas (Allan Kardec)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Ser Médium (Viana de Carvalho – Médiuns e mediunidades)


CAP. 7 – SER MÉDIUM


A mediunidade é registro paranormal que se encontra ínsito na criatura humana, à semelhança da inteligência, da razão.
Todo indivíduo que, conscientemente ou não, capta a presença de seres espirituais é portador de mediunidade, cabendo-lhe a tarefa de desdobrar os recursos parafísicos, através de conveniente educação, graças à qual se tornará instrumento responsável para o ministério superior a que a mesma se destina.
Inicialmente confundida com várias patologias, sejam de ordem mental ou orgânica, a mediunidade fez-se meio para demonstrar o equívoco em que teimavam permanecer os seus adversários gratuitos ou os investigadores apressados.
Caracterizando uma função sempre presente no homem em todas as épocas, só a partir de Allan Kardec passou a receber estudo profundo e consideração, vindo, então, a ocupar o lugar que lhe é devido, como ponte para o intercâmbio entre os espíritos de ambos os lados da vida com aqueles que se encontram mergulhados na mesma faixa das percepções psíquicas no corpo físico.
Espontânea, surge em qualquer idade, posição social, denominação religiosa ou cepticismo no qual se encontre o indivíduo.
Normalmente chama a atenção pelos fenômenos insólitos de que se faz portadora, produzindo efeitos físicos e intelectuais, bem como manifestações na área visual, auditiva, apresentando-se com gama variada conforme as diversas expressões intelectuais, materiais e subjetivas que se exteriorizam no dia-a-dia de todos os seres humanos.
Direcionando a observação para as ocorrências inabituais que lhe sucedam, o médium descobre um imenso veio aurífero que, penetrado, brinda-o com gemas de inapreciável qualidade.
Assim como o mergulhador educa a respiração para descer nas águas profundas onde espera encontrar ostras raras, portadoras de pérolas incomuns, o médium tem o dever de disciplinar a mente, a fim de aprofundar-se no oceano íntimo e dali arrancar as preciosidades que se encontram engastadas na concha bivalve das aspirações morais e espirituais.
Às vezes, quando do aparecimento da mediunidade, surgem distúrbios vários, sejam na área orgânica, através de desequilíbrios e doenças, ou mediante inquietações emocionais e psiquiátricas, por debilidade da sua constituição fisiopsicológica.
Não é a mediunidade que gera o distúrbio no organismo, mas a ação fluídica dos espíritos que favorece a distonia ou não, de acordo com a qualidade de que este se reveste.
Por outro lado, quando a ação espiritual é salutar, uma aura de paz e de bem-estar envolve o medianeiro, auxiliando-o na preservação das forças que o nutrem e sustentam durante a existência física.
A educação ou desdobramento mediúnico objetiva ampliar o campo de realização paranormal, porquanto, através dos recursos próprios, tem a especial finalidade de instruir os homens, realizar a iluminação de consciências, facultar o ministério da caridade, pelas possibilidades que proporciona aos desencarnados em aflição de terem lenidos os sofrimentos, as mágoas, a ignorância...
A faculdade de ser médium, própria dos seres inteligentes, constitui um superior instrumento de serviço ao alcance de todos, dependendo de cada um atender-lhe a presença orgânica ou ignorá-la, apurando-lhe a sensibilidade ou perturbando-lhe o mister, deixando-a ao abandono, aí correndo riscos de ser utilizada por entidades perversas ou levianas que se encarregarão de perturbá- la, entorpecê-la ou torná-la meio de desequilíbrio para o próprio médium como para aqueles que o cercam.
Não é, portanto, o ser médium ou não, mas a conduta que este se aplique que atrairá mentes que se irradiam no mesmo campo de vibrações especiais.
Swedenborg, ao perceber a presença da mediunidade, cientista e culto, não tergiversou em estudar a faculdade e dedicar-se ao seu exercício, brindando a humanidade com valioso patrimônio de sabedoria, esperança e paz.
Edgar Cayce, constatando a manifestação mediúnica de que se tomou objeto, aplicou-se ao labor pertinente e auxiliou dezenas de milhares de pacientes que lhe buscaram o socorro...
Adolf Hitler, depois de freqüentar o Grupo Thule, de fenômenos mediúnicos, dirigido por Dietrich Eckhart, em Berlim, ensandeceu-se, e, fascinado, acreditou-se a "mão da Providência", tornando-se destruidor de milhões de vidas e responsável por males incontáveis, que ainda permanecem na Terra...
A mediunidade, em si mesma, não é boa nem é má, antes, apresenta-se em caráter de neutralidade, ensejando ao homem utilizá-la conforme lhe aprouver, desse uso derivando os resultados que acompanharão o medianeiro até o momento final da sua etapa evolutiva no corpo.


Fonte: Médiuns e mediunidades (Ditado por Viana de Carvalho. Psicografado por Divaldo Franco. Editora Leal. 2011)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Companheiro Libertado [desencarnação de Dimas] (André Luiz – Obreiros da Vida Eterna)


CAP. 13 – COMPANHEIRO LIBERTADO [desencarnação de Dimas]

Depois de vários preparativos, principalmente ao lado de Cavalcante, que piorara após a intervenção cirúrgica, Jerônimo articulou providências referentes à desencarnação de Dimas, cuja posição era das mais precárias.
De manhãzinha, após entender-se com a Irmã Zenóbia, quanto à localização do primeiro amigo a libertar-se dos laços físicos, o Assistente convidou-nos ao trabalho.
Compreendia, mais uma vez, que há tempo de morrer, como há tempo de nascer. Dimas alcançara o período de renovação e, por isso, seria subtraído à forma grosseira, de modo a transformar-se para o novo aprendizado. Não fora determinado dia exato. Atingira-se o tempo próprio. Recordando, contudo, meu caso particular e sequioso de elucidações construtivas, ousei interrogar nosso orientador, enquanto regressávamos ao círculo carnal, pela manhã.
Prezado Assistente — indaguei —, releve-me o desejo de saber particularidades do serviço... Poderá, todavia, informar-me se Dimas desencarnará em ocasião adequada? Viveu ele toda a cota de tempo suscetível de ser aproveitada por seu Espírito na Crosta da Terra? completou a relação de serviços que o trouxera ao renascimento?
Não — respondeu o interpelado, com firmeza —, não chegou a aproveitar todo o tempo prefixado.
Oh! — considerei, levianamente — terá sido, como fui, suicida inconsciente? Penetrei nossa colônia nessa condição e, antes de obter a graça do refúgio renovador, experimentei acerbos padecimentos.
Enunciando tal apreciação, ponderava sobre a tarefa especial de socorrê-lo. Razões fortes, decerto, motivariam o esforço que se levava a efeito, mas a informação do orientador desconcertava-me. Se o irmão referido não completara o tempo previsto ao roteiro de obrigações que lhe fora traçado, porque tamanha consideração? Mereceria o movimento excepcional de assistência individualizada? que motivo impeliria a esfera superior a prestar-lhe tanta atenção?
Jerônimo compreendeu, sem dúvida, a venenosa preocupação que me dominava o pensamento, mas absteve-se de longas explicações, confirmando, simplesmente:
Não, André, nosso amigo não é suicida.
Mais acertado seria silenciar raciocínios suspeitos; entretanto, meu inveterado instinto de pesquisa intelectual era demasiado forte para que eu me dominasse.
Fixando-o, algo confundido, tornei a perguntar:
Mas se Dimas não aproveitou todo o tempo de que dispunha, não terá também desperdiçado a oportunidade, como aconteceu a mim mesmo?
Meu interlocutor estampou no semblante leve sorriso e acentuou, compassivo:
Não conheço seu passado, André, e acredito que as melhores intenções terão movido suas atividades no pretérito. A situação do amigo a que nos referimos, porém, é muito clara. Dimas não conseguiu preencher toda a cota de tempo que lhe era lícito utilizar, em virtude do ambiente de sacrifício que lhe dominou os dias, na existência a termo. Acostumado, desde a infância, à luta sem mimos, desenvolveu o corpo, entre deveres e abnegações incessantes. Desfavorecido de qualquer vantagem material no princípio, conheceu ásperas obrigações para ganhar a intimidade com as leituras mais simples. Entregue ao serviço rude, no verdor da mocidade, constituiu a família, pingando suor no sacrifício diário. Passou a vida em submissão a regulamentos, conquistando a subsistência com enorme despesa de energia. Mesmo assim, encontrou recursos para dedicar-se aos que gemem e sofrem nos planos mais baixos que o dele. Recebendo a mediunidade, colocou-a a serviço do bem coletivo. Conviveu com os desalentados e aflitos de toda sorte. E porque seu espírito sensível encontrava prazer em ser útil e em razão dos necessitados guardarem raramente a noção do equilibrio, sua existência converteu-se em refúgio de enfermos do corpo e da alma. Perdeu, quase integralmente, o conforto da vida social, privou-se de estudos edificantes que lhe poderiam prodigalizar mais amplas realizações ao idealismo de homem de bem e prejudicou as células físicas, no acúmulo de serviço obrigatório e acelerado na causa do sofrimento humano. Pelas vigílias compulsórias, noite a dentro, atenuou-se-lhe a resistência nervosa; pela inevitável irregularidade das refeições, distanciou-se da saúde harmoniosa do estômago; pelas perseguições gratuitas de que foi objeto, gastou fosfato excessivamente e, pelos choques reiterados com a dor alheia, que sempre lhe repercutiu amargamente no coração, alojou destruidoras vibrações no fígado, criando afecções morais que o incapacitaram para as funções regeneradoras do sangue. É verdade que não podemos louvar o trabalhador que perde qualquer órgão fundamental da vida fisica em atrito com as perturbações que companheiros encarnados criam e incentivam para si mesmos; no entanto, faz-se preciso considerar as circunstâncias em jogo. Dimas poderia receber, com naturalidade, semelhantes emissões destrutivas, mantendo-se na serenidade intangível do legítimo apóstolo do Evangelho. Todavia, não se organiza de um dia para outro o anteparo psíquico contra o bombardeio dos raios perturbadores da mente alheia, como não é fácil improvisar cais seguro ante o oceano em ressaca. Cercado de exigéncias sentimentais, subalimnentado, maldormido, teve as reiteradas congestões hepáticas convertidas na cirrose hipertráfica, portadora da desintegração do corpo.
Interrompeu-se o orientador, e, como me sentisse fundamente envergonhado pelo paralelo que inadvertidamente estabelecera, Jerônimo acentuou:
Segundo observamos, há existências que perdem pela extensão, ganhando, porém, pela intensidade. A visão imperfeita dos homens encarnados reclama o exame acurado dos efeitos, mas a visão divina jamais despreza minuciosas investigações sobre as causas...
Calei-me, humilhado. O hábito de analisar pessoas e ocorrências, unilateralmente, mais uma vez me impunha proveitosa decepção. Naturalmente, o Assistente conhecia-me a antiga posição, estaria informado de meus desvios anteriores, mas dignava-se evitar-me desapontamento mais fundo com referências comparativas. Assomaram-me recordações do passado, mais nítidas e esclarecedoras. Inegavelmente, conduzira minha última experiência como melhor me pareceu. Tomava refeições calmas e substanciosas, a horas certas; dera-me a estudos prediletos; dispunha de meu tempo com rigorosa independência nas decisões; cerrava a porta aos clientes antipáticos, quando me faltava disposição para suportá-los; nunca molestara o fígado por sofrimentos alheios, porque era ele pequeno para conter as vibrações destruidoras de minhas próprias Irritações, ao sentir-me contrariado nos pontos de vista pessoais, e, sobretudo, aniquilara o aparelho gastrintestinal pelo excesso de comestíveis e bebedices aliados à sífilis a que eu mesmo dera guarida, levianamente. Havia, portanto, muita diversidade entre o caso Dimas e o meu. O dedicado servidor do bem empregara as possibilidades que o Céu lhe confiara em benefício de outrem. Quanto a mim, centralizado em mim mesmo, gozara essas possibilidades até ao clímax, perdendo-me pela abusiva saciedade.
Jerônimo era, porém, suficientemente bom para não comentar realidades tão duras. Reafirmando a generosidade espontânea que o caracterizava, desarticulou minhas impressões desagradáveis, tangendo assuntos novos.
Em breve, chegávamos à residência do enfermo, cujo estado era gravíssimo.
Alguns amigos desencarnados velavam, atentos.
Iluminada entidade que evidenciava grande interesse pelo agonizante, acercou-se do Assistente, indagando se o decesso fora marcado para aquele dia.
Sim — esclareceu o interpelado —, a resistência orgânica terminou. Estamos autorizados a aliviá-lo, o que faremos hoje, alijando-lhe o fardo pesado de matéria densa.
A interlocutora consultou-o, ainda, sobre a oportunidade de reunir ali alguns beneficiados da missão cumprida pelo moribundo, que lhe desejavam testemunhar carinhoso apreço, no derradeiro dia carnal.
Minha amiga compreende as dificuldades inerentes ao assunto — respondeu o nosso dirigente com gentileza. — Se Dimas estivesse plenamente senhor das emoções, não surgiria inconveniente algum. Entretanto, ele permanece agora sob agitações psíquicas muito fortes. Conhece o fim próximo do aparelho carnal, mas não pode esquivar-se, de súbito, às algemas domésticas. Teme o futuro dos seus, conserva-se em total descontrole dos nervos e enlaça-se nas emissões de inquietude da esposa e dos filhos. Cremos ser inoportuna essa visita compacta, no decorrer das atividades da desencarnação, mesmo em se tratando dos melhores amigos do doente, para que se lhe não agrave o descontrole mental. Dimas poderá, não obstante, ser amparado pelo afeto dos que por ele têm afeição, logo se desfaça do corpo grosseiro. Além disso, sugiro que manifestação de carinho, merecida e justa, lhe seja prestada por quantos o estimam, no dia em que nos deslocarmos da Casa Transitória de Fabiano para as regiões mais altas. Nosso irmão e cooperador descansará, ali, sob atencioso cuidado, junto de outros amigos em condições análogas. Não faltaremos com o aviso prévio sobre sua partida, para que se congreguem conosco os seus afeiçoados, na prece de reconhecimento que elevaremos ao Todo-Poderoso.
A consulente manifestou sincera satisfação e acentuou:
Bem lembrado! Esperaremos a comunicação no instante oportuno.
Logo após, despediu-se, afastando-se ao lado de outros visitantes de nossa esfera, que nos deixavam, agora, campo livre para a nossa necessária atuação.
O transe era, sem dúvida, melindroso.
A esposa do médium, ao pé dele, não obstante prolongadas vigílias e sacrifícios estafantes, que a expressão fisionômica denunciava, mantinha-se firme a seu lado, olhos vermelhos de chorar, emitindo forças de retenção amorosa que prendiam o moribundo em vasto emaranhado de fios cinzentos, dando-nos a impressão de peixe encarcerado em rede caprichosa.
Jerônimo apontou-a, bondoso, e explicou:
Nossa pobre amiga é o primeiro empecilho a remover. Improvisemos temporária melhora para o agonizante, a fim de sossegar-lhe a mente aflita. Somente depois de semelhante medida conseguiremos retirá-lo, sem maior impedimento. As correntes de força, exteriorizadas por ela, infundem vida aparente aos centros de energia vital, já em adiantado processo de desintegração.
Recomendou o Assistente que Luciana e Hipólito se mantivessem ao lado da senhora, modificando-lhe as vibrações mentais, e Instruindo-me para coadjuvar-lhe a influenciação, como se fazia mister.
Enquanto mantinha as mãos coladas ao cérebro de Dimas, propiciando-lhe a renovação das forças gerais, Jerônimo aplicava-lhe passes longitudinais, desfazendo os fios magnéticos que se entrecruzavam sobre o corpo abatido.
Reparei que o moribundo se encontrava já em dolorosas condições. Plenamente desorganizado, o fígado começava definitivamente a paralisar suas funções. O estômago, o pâncreas e o duodeno apresentavam anomalias estranhas. Os rins pareciam pràticamente mortos. Os glomérulos prendiam-se aos ramos arteriais como pequeninos botões arroxeados; os tubos coletores, enrijecidos, prenunciavam o fim do corpo. Sintomas de gangrena pesavam em toda a atmosfera orgânica.
O que mais impressionava, porém, era a movimentação da fauna microscópica. Corpúsculos das mais variadas espécies nadavam nos líquidos acumulados no ventre, concentrando-se particularmente no ângulo hepático, como a buscarem alguma coisa, com avidez, nas vizinhanças da vesícula.
O coração trabalhava com dificuldade. Enfim, o enfraquecimento atingira o auge.
Precisamos fornecer-lhe melhoras fictícias — asseverou o dirigente de nossas atividades
tranquilizando-lhe os parentes aflitos. A câmara está repleta de substâncias mentais torturantes.
O Assistente principiou, então, a exercer intensivamente sua influência.
Dimas, de raciocínio obnubilado pela dor, não divisava a nossa presença. Os atritos celulares, pelo rápido desenvolvimento dos vírus portadores do coma, impediam-lhe percepções claras. As proveitosas faculdades mediúnicas que ele possuía haviam caído em temporário eclipse, ante os choques do sofrimento. Era, porém, extremamente sensível à atuação magnética.
Pouco a pouco, com a interferência de Jerônimo, o amigo acalmou-se, respirou em ritmo quase normal, abriu os olhos fundos e exclamou, reconfortado:
Graças a Deus! Louvado seja Deus!
Um dos filhos, a contemplá-lo, de olhos súplices, seguiu-lhe as palavras, ansioso, indagando num gesto de alívio:
Melhorou, papai?
Oh! sim, meu filho, agora respiro mais livremente...
Sente os amigos espirituais ao seu lado? —tornou o rapaz, cheio de fé.
O enfermo sorriu, algo triste, e retrucou:
Não. Quero crer que o sofrimento físico cerrou a porta que me comunicava com a esfera invisível. Mesmo assim, estou muito confiante. Jesus não nos desampara.
Fixou a companheira em lágrimas e aduziu:
Todos nós experimentaremos a solidão nos grandes momentos de aferir valores espirituais. Estou convencido de que os nossos Guias do Plano Superior não me olvidarão as necessidades... entretanto... não devo esperar que tomem cuidado permanente comigo...
Falava em voz quase imperceptível, em virtude do abatimento, entrecortando as palavras na respiração opressa.
A senhora, vacilante, estava inteiramente amparada por Luciana, que a abraçava, afetuosa. Viam-se-lhe os sinais de angustioso cansaço. Lágrimas espessas corriam-lhe dos olhos congestionados.
Jerônimo, agora, pousava a destra na fronte do moribundo, proporcionando-lhe força, inspiração e idéias favoráveis ao desdobramento de nossos serviços. Dimas mostrou novo brilho no olhar, encarou a companheira, esforçando-se por parecer tranquilo, e rogou:
Querida, vá descansar!... Peço-lhe... Tantas noites a fio, de sentinela, acabarão por aniquilá-la. Que será de mim, doente e exausto, se o desânimo surpreender-nos a todos?
Fez mais longo intervalo e prosseguiu:
Repouse a meu pedido. Ficaria tão satisfeito se a visse mais forte... Não se retarde. Sinto-me muito melhor e sei que o dia será de calma e reconforto.
Cedendo às instâncias do esposo e docemente constrangida pela influência de Luciana e Hipólito, a matrona recolheu-se ao quarto.
Em vista das melhoras obtidas, houve expansão de júbilo familiar. O médico foi chamado. Radiante, o clínico asseverou que os prognósticos contrariavam suposições anteriores. Renovou as indicações, dispensou os anestésicos e recomendou ao pessoal doméstico que entregasse o doente ao repouso absoluto. Dimas acusava melhoras surpreendentes. Era razoável, portanto, que a câmara fôsse deixada em silêncio para que ele tivesse um sono reparador.
O esculápio atendia-nos ao desejo.
Em breves minutos, o compartimento ficou solitário, facilitando-nos o serviço.
O Assistente distribuiu trabalho a todos nós.
Hipólito e Luciana, depois de tecerem uma rede fluídica de defesa, em torno do leito, para que as vibrações mentais inferiores fôssem absorvidas, permaneceram em prece ao lado, enquanto eu mantinha a destra sobre o plexo solar do agonizante.
Iniciaremos, agora, as operações decisivas — declarou-nos Jerônimo, resoluto —, antes, porém, forneçamos ao nosso amigo a oportunidade da oração final.
O Assistente tocou-o, demoradamente, na parte posterior do cérebro. Vimos que o agonizante passou a emitir pensamentos luminosos e belos. Não nos via, nem nos ouvia, de maneira direta, mas conservava a intuição clara e ativa. Sob o controle de Jerônimo, experimentou imperiosa necessidade de orar e, embora os lábios cansados prosseguissem imóveis, assinalamos a rogativa mental que endereçava ao Divino Mestre:
Meu Senhor Jesus-Cristo, creio que atingi o fim de meu corpo, do corpo que me deste, por algum tempo, como dádiva preciosa e bendita. Eu não sei, Senhor, quantas vezes feri a máquina fisiológica que me confiaste. Inconscicntemente, quebrei-lhe as peças com o meu descaso, menosprezando patrimônios sagrados, cujo valor estou reconhecendo em mais de doze meses de sofrimento carnal incessante. Não te posso implorar a bênção da morte pacífica, porque nada fiz de bom ou de útil por merecê-la. Mas se é possível, Amado Médico, socorre-me com o teu compassivo e desvelado amor! Curaste paralíticos, cegos e leprosos... Porque te não compadecerás de mim, miserável peregrino da Terra?...
Seus olhos deixaram escapar lágrimas abundantes.
Após breves minutos, observamos que o agonisante recordava a meninice distante. Na tela miraculosa da memória, revia o colo materno e sentia sede do carinho de mãe. Oh! se pudesse contar com o socorro da abençoada velhinha que a morte arrebatara há tantos anos! — refletia. Premido pelas doces reminiscências, modificou o quadro da súplica, lembrou a cena da crucificação de Jesus, insistiu mentalmente por vislumbrar o vulto sublime de Maria e, sentindo-se de joelhos, diante dela. implorou:
Mãe dos céus, mãe das mães humanas, refúgio dos órfãos da Terra, sou agora, também, o menino frágil com fome do afeto maternal nesta hora suprema! Oh! Senhora Divina, mãe de meu Mestre e de meu Senhor, digna-te abençoar-me! Lembra que teu filho divino pôde ver-te no derradeiro instante e intercede por mim, mísero servo, para que eu tenha minha santa mãe ao meu lado no minuto de partir!... Socorre-me! não me abandones, anjo tutelar da Humanidade, bendita entre as mulheres!
Oh! providência maravilhosa do Céu! Convertera-se o coração do moribundo em foco radioso e a porta de acesso deu entrada a venerável anciã, coroada de luz semelhando neve luminosa. Ela se aproximou de Jerônimo e informou, após desejar-nos a paz divina:
Sou a mãe dele...
O Assistente comentou a urgência da tarefa que nos aguardava e confiou-lhe o depósito querido.
Em breves instantes, tínhamos perante os olhos inolvidável quadro afetivo. Sentara-se a velhinha no leito, depondo a cabeça do moribundo no regaço acolhedor, afagando-a com as mãos caridosas.
Em virtude do reforço valioso no setor da colaboração, Hipólito e Luciana, atendendo ao nosso dirigente, foram velar pelo sono da esposa, para que as suas emissões mentais não nos alterassem o esforço.
No recinto, permanecemos os três apenas.
Dimas, experimentando indefinível bem-estar no regaço materno, parecia esquecer, agora, todas as mágoas, sentindo-se amparado como criança semi-inconsciente, quase feliz. Ordenou Jerônimo que me conservasse vigilante, de mãos coladas àfronte do enfermo, passando, logo após, ao serviço complexo e silencioso de magnetização. Em primeiro lugar, Insensibilizou inteiramente o vago, para facilitar o desligamento nas vísceras. A seguir, utilizando passes longitudinais, isolou todo o sistema nervoso simpático, neutralizando, mais tarde, as fibras inibidoras no cérebro. Descansando alguns segundos, asseverou:
Não convém que Dimas fale, agora, aos parentes. Formularia, talvez, solicitações descabidas.
Indicou o desencarnante e comentou, sorrindo:
Noutro tempo, André, os antigos acreditavam que entidades mitológicas cortavam os fios da vida humana. Nós somos Parcas autênticas, efetuando semelhante operação...
E porque eu indagasse, tímido, por onde iríamos começar, explicou-me o orientador:
Segundo você sabe, há três regiões orgânicas fundamentais que demandam extremo cuidado nos serviços de liberação da alma: o centro vegetativo, ligado ao ventre, como sede das manifestações fisiológicas; o centro emocional, zona dos sentimentos e desejos, sediado no tórax, e o centro mental, mais importante por excelência, situado no cérebro.
Minha curiosidade intelectual era enorme. Entendendo, porém, que a hora não comportava longos esclarecimentos, abstive-me de indagações.
Jerônimo, todavia, gentil como sempre, percebeu-me o propósito de pesquisa e acrescentou:
Noutro ensejo, André, você estudará o problema transcendente das várias zonas vitais da individualidade.
Aconselhando-me cautela na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a operar sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava do umbigo, pairando em torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de esfriamento.
Dimas gemeu, em voz alta, semi-inconsciente.
Acorreram amigos, assustados. Sacos de água quente foram-lhe apostos nos pés. Mas, antes que os familiares entrassem em cena, Jerônimo, com passes concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei que todos os músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-se à libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela retenção do senhor espiritual.
Com a fuga do pulso, foram chamados os parentes e o médico, que acorreram, pressurosos. No regaço maternal, todavia, e sob nossa influenciação direta, Dimas não conseguiu articular palavras ou concatenar raciocínios.
Alcançáramos o coma, em boas condições.
O Assistente estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal, Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo, instantâneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, àmedida que o novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade, momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias.
Dimas-desencarnado elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo através de leve cordão prateado, semelhante a autil elástico, entre o cérebro de matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do organismo liberto.
A genitora abandonou o corpo grosseiro, rapidamente, e recolheu a nova forma, envolvendo-a em túnica de tecido muito branco, que trazia consigo.
Para os nossos amigos encarnados, Dimas morrera, inteiramente. Para nós outros, porém, a operação era ainda incompleta. O Assistente deliberou que o cordão fluídico deveria permanecer até ao dia imediato, considerando as necessidades do “morto”, ainda imperfeitamente preparado para desenlace mais rápido.
E, enquanto o médico fornecia explicações técnicas aos parentes em pranto, Jerônimo convidou-nos à retirada, confiando, porém, o recém-desencarnado àquela que lhe fora desvelada mãezinha no mundo físico:
Minha irmã pode conservar o filho à vontade até amanhã, quando cortaremos o fio derradeiro que o liga aos despojos, antes de conduzi-lo a abrigo conveniente. Por enquanto, repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina em visão panorâmica no campo interior. Além disso, acusa debilidade extrema após o laborioso esforço do momento. Por essa razão, somente poderá partir, em nossa companhia, findo o enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une ainda pelos últimos resíduos.
A anciã agradeceu com emoção e, dando a entender que lhe respondia às argüições mentais, o Assistente concluiu:
Convém montar guarda aqui, vigilante, para que os amigos apaixonados e os Inimigos gratuitos não lhe perturbem o repouso forçado de algumas horas.
A mãe de Dimas revelou-se muito grata e partimos, em grupo, a caminho da fundação de Fabiano, de onde nossa expedição socorrista regressaria à Crosta, no dia seguinte.


Fonte: Obreiros da Vida Eterna (Ditado por André Luiz. Psicografado por Chico Xavier. Editora FEB. 1946)


A Morte de Dimas (Curta metragem espírita com base na obra Obreiros da Vida Eterna):




sábado, 9 de janeiro de 2016

Amadurecimento Psicológico (Joanna de Ângelis – Momentos de Saúde e de Consciência)


CAP. 20 - AMADURECIMENTO PSICOLÓGICO


O relacionamento interpessoal revela o comportamento dos indivíduos em função de si e dos outros. Nos primeiros tentames oculta a realidade, na grande preocupação da aparência. À medida que estreita os vínculos, a postura de guarda cede lugar ao relaxamento emocional, e, a pouco e pouco, a máscara cai.

Esse fenômeno é resultado da aproximação que o tempo proporciona à relação.

Nas pessoas realizadas, saudáveis, a conduta permanece sem surpresas, porque há uma interação da sua vivência interior com a exterior, verdadeiro amadurecimento psicológico. Após o autoconhecimento, que propicia a auto-aceitação, explora-se o exterior, abrindo-se a experiências, a vivências novas e enriquecedoras. A linha do equilíbrio demarca a personalidade, sem excentricidades nem bruscas mudanças como ocorre entre a exaltação e a depressão.

Quem assim age, encontra-se plenificado, irradiando esse estado de conquista como pessoa humana.

No comportamento alternado, em que o júbilo e a tristeza, a confiança e a suspeita, o amor e a
animosidade se confundem, o autodescobrimento, a imaturidade programam estados de instabilidade, de desdita, conduzindo a enfermidades emocionais que são somatizadas, reaparecendo na área orgânica com caráter destruidor.

Tais reflexos, no relacionamento, geram desequilíbrios que se agravam, na razão direta que se fazem desastrosos, empurrando suas vítimas para estados obsessivos-compulsivos ou depressivos.

Na tua ânsia de crescimento experimenta a tua realidade íntima em confronto com a externa.

Não te permitas perturbar pelos indivíduos reagentes, que se encontram de mal com eles próprios e vomitam mau humor contra os demais. Permanece cortês, para que não seja o seu estado bilioso a dizer como te comportares.

Por tua vez, não te transformes em personalidade reatora, aquela que está sempre reagindo, quando poderia e deveria agir.

A tua ação e reação traduzem como és interiormente, bem como sentes e vês em realidade o que se passa em teu mundo íntimo.

Assim, não desperdices energias mascarando-te, antes aplica-as em contínuo trabalho de auto- aprimoramento, de crescimento interior até exteriorizares as conquistas em simpatia, cordialidade e amor.

Qualquer pretensão de modificar o mundo e fazê-lo girar como te aprouver é alucinação. Porém, se te dedicares à transformação íntima, que reflita em alteração de outros comportamentos para melhor, lograrás alcançar a verdadeira meta do amadurecimento psicológico.

Com esse aprofundamento no eu espiritual, a saúde plena será tua amiga na grande proposta que te leva em busca de realização pessoal e humana.

Jesus nunca se amesquinhou diante dos falsamente poderosos ou de classe e economia mais expressivas. Tampouco se tornou prepotente diante dos fracos e sofredores. A linha de equilíbrio entre o Seu interior e o exterior, demonstrou a Sua superioridade moral, espiritual e intelectual, que O torna Modelo sob todos os aspectos para todos nós, exemplo de perfeita maturidade psicológica, porque plenificadora.



Fonte: Momentos de Saúde e de Consciência (Ditado por Joanna de Ângelis. Psicografado por Divaldo Franco. Editora Leal. 1991)

Conflitos domésticos (Richard Simonetti – Uma Razão Para Viver)



CONFLITOS DOMÉSTICOS

Um dos mais graves problemas humanos está na dificuldade de convivência no lar. Pessoas que enfrentam desajustes físicos e psíquicos têm, não raro, uma história de incompatibilidade familiar, marcada por frequentes conflitos.

Há quem os resolva de forma sumária: o marido que desaparece, a esposa que pede divórcio, o filho que opta por morar distante.

Justificando-se em face das tempestades domésticas alguns espíritas utilizam o conhecimento doutrinário para curiosas racionalizações:

- Minha mulher é o meu carma: neurótica, agressiva, desequilibrada. Que fiz de errado no passado, meu Deus, para merecer esse “trem”?

- Só o Espiritismo para me fazer tolerar meu marido. Aguento hoje para me livrar depois. Se o deixar agora terei que voltar a seu lado em nova encarnação. Deus me livre! Resgatando meu débito não quero vê-lo nunca mais!

Conversávamos com idosa confreira que teve conturbada convivência com o esposo, falecido há alguns anos. E lhe dizíamos, brincando:

- A senhora vai ficar feliz quando desencarnar. Reencontrará seu querido. Ele a espera...

A resposta veio pronta, incisiva:

- Isso nunca! Prefiro ir para o inferno!

Um pai nos dizia:

- Certamente há um grave problema entre mim e meu filho, relacionado com o passado. Em certas ocasiões sinto vontade de esganá-lo. Ele me desafia, olha-me com ódio. Preciso controlar-me muito para não perder a cabeça.

Realmente, nesses relacionamentos explosivos que ocorrem em muitos lares há o que poderiamos definir como “compromisso cármico”. Espíritos que se prejudicaram uns aos outros e que, não raro, foram inimigos ferozes, reencontram-se no reduto doméstico.

Unidos não por afetividade, nem por afinidade, e sim por imperativos de reconciliação, no cumprimento das leis divinas, enfrentam inegáveis dificuldades para a harmonização, mesmo porque conservam, inconscientemente, a mágoa do passado. Daí as desavenças fáceis que conturbam a vida familiar. Naturalmente situações assim não interessam à nossa economia física e psíquica e acabam por nos desajustar.

*

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Imperioso considerar, todavia, que esses desencontros são decorrentes muito mais de nosso comportamento no presente do que dos compromissos do pretérito. Não seria razoável Deus nos reunir no lar para nos agredirmos e magoarmos uns aos outros.

Ouvimos, certa leita, de Henrique Rodrigues, conhecido expositor espírita, uma expressão feliz a respeito do assunto:

Deus espera que nos amemos e não que nos amassemos”.

E incrível, mas somos ainda tão duros de coração, como dizia Jesus, que não conseguimos conviver pacificamente. Reunamos duas ou mais pessoas numa atividade qualquer e mais cedo ou mais tarde surgirão desentendimentos e desarmonia. Isso ocorre principalmente no lar, onde não há o verniz social e damos livre curso ao que somos, exercitando o mais conturbador de todos os sentimentos, que é a agressividade.

Neste particular, o estilete mais pontiagudo, de efeito devastador, é o palavrão. Pronunciado sempre com entonação negativa, de desprezo, deboche ou cólera, é qual raio fulminante. Se o familiar agredido responde no mesmo diapasão, o que geralmente acontece, “explode” o ambiente, favorecendo a infiltração de forças das sombras. A partir daí tudo pode acontecer: gritos, troca de insultos, graves ofensas e até agressões físicas, sucedidos, invariavelmente, por estados depressivos que desembocam, geralmente, em males físicos e psíquicos.

Se desejamos melhorar o ambiente doméstico, em favor da harmonização, o primeiro passo é inverter o processo de cobrança.

Normalmente os membros de uma casa esperam demais uns dos outros, reclamando atenção, respeito, compreensão, tolerância... Amoral cristã ensina que devemos cobrar tudo isso sim, e muito mais, mas de nós mesmos, porquanto nossa harmonia íntima depende não do que recebemos, mas do que damos. E, melhorando-nos, fatalmente estimularemos os familiares a fazer o mesmo.

Todos aprendemos pelo exemplo, até o amor. Está demonstrado que crianças carentes de afeto têm muita dificuldade para amar. Será que estamos dando amoraos familiares?

Não é fácil fazê-lo porquanto somos Espíritos muito imperfeitos. Mas foi para nos ajudar que Jesus esteve entre nós, ensinando-nos como conviver harmoniosamente com o semelhante, exercitando valores de humildade e sacrifício, marcados indelevelmente pela manjedoura e pela cruz.

Um companheiro afirma, desalentado:

- Tenho feito todo o possível para harmonizar-me com minha esposa, cumprindo o Evangelho. Esforço quase inútil, porquanto ela é uma pessoa intratável, sempre irritada e agressiva. Não sei o que fazer...

Talvez lhe falte um tanto mais de perseverança, já que é impossível alguém resistir indefinidamente à ação do Bem. Parta-se do princípio lógico: “Quando um não quer, dois não brigam”. Não existem brigas unilaterais.

Em qualquer circunstância, em tavor de nossa paz, é importante perseverarmos nos bons propósitos, cumprindo a recomendação de Jesus: Perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete.

Quem sempre perdoa, mantém sempre o próprio equilíbrio.

A propósito, no livro “A Sombra do Abacateiro” o autor, Carlos A. Baccelli, reporta-se a sugestivo episódio relatado por Francisco Cândido Xavier. Diz o querido médium:

Em Pedro Leopoldo, fomos procurado por uma senhora sofredora que era casada há dezoito anos... Tinha lições difíceis para dar; seu esposo e seus dois filhos eram complicados; era obrigada a pensar em perdão, em bondade e em compaixão muitas vezes por dia.

E pedia a Emmanuel uma orientação. Ele respondeu que ela deveria continuar perdoando sempre. Ela replicou que já estava cansada, doente, ao que o nosso Benfeitor redarguiu, lembrando que existiam milhões de pessoas no mundo, cansadas e doentes também... Emmanuel recordou o que disse Jesus a Pedro - perdoarás setenta vezes sete.

Aquela irmã respondeu, então: - Olha, meu caro Amigo, eu já fiz as contas e eu já ultrapassei, em dezoito anos, o número quatrocentos e noventa...

Depois de uma breve pausa, Emmanuel lhe falou, por fim: - Mas você se esqueceu de uma coisa; é perdoar setenta vezes sete cada ofensa... ”

- Exerça severa vigilância sobre o que fala. Geralmente as desavenças no lar têm origem no destempero verbal.

- Diante de familiares difíceis, não diga: “É minha cruz!” O único peso que carregamos, capaz de esmagar a alegria e o bom-ânimo, é o de nossa milenar rebeldia ante os sábios desígnios de Deus.

- Elogie as virtudes do familiar, ainda que incipientes, e jamais critique seus defeitos. Como plantinhas tenras, tanto uns como outros crescem na proporção em que os alimentamos.

- Evite, no lar, hábitos e atitudes não compatíveis com as normas de civilidade vigentes na vida social. Sem respeito pelos companheiros de jornada evolutiva fica difícil sustentar a harmonia doméstica.

- Cultive o diálogo. Diz André Luiz que quando os componentes de um lar perdem o gosto pela conversa, a afetividade logo deixa a família.


Fonte: Uma Razão para Viver (Richard Simonetti. Editora CEAC. 1989)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Homicidas (Antônio Carlos - Entrevistas com os Espíritos)



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Fonte: Entrevistas com os Espíritos (Ditado por Antônio Carlos. Psicografado por Ver Lúcia M. C. Editora Petit. 2011)